Cristãos devem empenhar-se para «uma nova governança»

o bispo Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício da Cultura, defendeu hoje, no Porto, que “urge um empenhamento dos cristãos para que possa erguer-se uma nova governança, com qualidade para inventar o futuro”.

na abertura do seminário “teologia moral na dimensão política: nos 50
anos do ii concílio do vaticano”, no auditório da igreja nova de
ramalde, o presidente da fundação spes abordou a situação atual a partir
do documento conciliar “gaudium et spes”, cuja visão sobre “a
comunidade política é limitada aos conhecimentos otimistas dos anos 60”.

segundo
carlos azevedo, “não se previa o cenário atual: o subjugar do político
aos golpes dos tirânicos poderes financeiros, a desmotivação para o
exercício da cidadania e a perigosa erosão do sentido do político nos
cidadãos”.

o antigo bispo auxiliar de lisboa alertou para “a dificuldade enorme de fazer prognósticos a médio e longo prazo”.

perante
os participantes no seminário, carlos azevedo reconheceu que “os
cristãos ainda se empenham no plano relacional, associativo, caritativo
(…), mas é cada vez mais abandonado o campo propriamente político”.

o
bispo questionou “como encontrar gosto para viver em sociedade, quando o
espaço não é transparente e a ligação política se desfez, no presente, e
está a hipotecar o futuro, financeira e ecologicamente”.

na
intervenção, o delegado do conselho pontifício da cultura apelou ao
surgimento de “alguém que dê competência ao povo, respeite a visão
plural do mundo, sem consensos regulados ou administrados e ouse, como
cristo, uma mudança messiânica no interior da história”, numa ocasião em
que “uns cedem à tentação de se fecharem, se refugiarem, em nichos de
vida privada e quando outros ainda reforçam a solução na tecnocracia dos
peritos”.

apelando a que a igreja não caia no risco “de
identificar demasiado o reino de deus com o seu espaço específico”,
carlos azevedo mostrou-se convicto de que “descobrir pessoas com sentido
do reino de deus (…) fará nascer uma cultura política de participação
democrática e não regressar a totalitarismos de má memória, já a
despontar em diversos lugares”.

“quem tem força moral para nos
mobilizar para um estilo de vida simples e humilde, dialogante e
exigente, pacífico, compassivo”, questionou, ao mesmo tempo que exortou à
identificação de “microclimas políticos de mudança na sociedade
portuguesa e figuras decisivas do viver em comum para com sabedoria
planear um futuro com dignidade humana para todos”.

lusa / sol