CSI distorce essência de técnicas como o ‘profiling’

As séries de investigação criminal têm levado muitos jovens a seguir esta via, mas o CSI é «um verdadeiro inferno» para quem ensina ou aplica no terreno técnicas como o ‘profiling’, pois distorce a essência deste instrumento contra o crime.

«tudo é falso. as séries de televisão são um problema muito grave com que temos de lidar, porque as pessoas vêm ter connosco com ideias distorcidas», disse à agência lusa francisca rebocho, mestre em ciências forenses.

esta docente da faculdade de ciências humanas e sociais da universidade fernando pessoa diz que, «desde que o fenómeno csi se soltou, soltou-se o inferno».

na formação que dá nesta área, francisca rebocho começa por esclarecer sobre a aplicabilidade destas técnicas em portugal, onde a realidade é muito diferente da passada nas séries de investigação criminal, que reúnem legiões de milhões de fãs em todo o mundo.

estas séries, esclarece, «são fantasiosas e puro entretenimento», mas «as pessoas baralham tudo e acreditam que, após receberem formação, vão trabalhar em laboratórios sofisticadíssimos e ir para o terreno».

apesar de diferentes do fenómeno csi, as técnicas de investigação criminal como o ‘profiling’ – técnica forense que visa traçar o perfil do criminoso a partir da cena do crime – são reconhecidas como uma ajuda aos investigadores criminais.

os ‘profilers’ são, no entanto, «pessoas normais» que adquirem uma formação e não seres especiais, com características fora de série, como a capacidade de ler a mente do criminoso, como algumas séries transmitem.

na prática, desde sempre que os investigadores criminais recorrem a técnicas do género, com o mesmo objectivo: chegar à origem do crime e ao seu autor.

barra da costa, inspector-chefe da polícia judiciária e criminologista, está a especializar-se em «perfis de homicídios múltiplos» e prepara-se para apresentar um trabalho em que vai «tentar demonstrar a utilidade dos perfis».

em declarações à lusa, o criminologista revelou que, depois de apurar qual o estado da arte do ‘profiling’ a nível mundial, vai trabalhar nos estudos de ‘profiling’ realizados até hoje e aplicá-los a um caso concreto: o estripador português.

sobre técnicas como o ‘profiling’, o investigador lembrou que «os psicólogos nunca estão na cena do crime», mas reconheceu que «os polícias conseguem fazer o trabalho dos psicólogos».

«não basta a teoria. o ideal é saber alguma coisa de investigação criminal e complementar com estudos académicos», defendeu.

este criminologista reconhece, contudo, que estas técnicas podem ajudar a polícia, nomeadamente a referenciar níveis de personalidade de uma testemunha, por exemplo.

«se os psicólogos lerem os relatórios, virem os vestígios do terreno e fizerem um perfil, podem chamar a atenção para pequenos pormenores como erros ortográficos ou outros que indiciam características da pessoa, física e não só», disse.

fernando almeida, presidente da sociedade portuguesa de psiquiatria e psicologia de investigação (spppi), disse à lusa que «o ideal» será «juntar a teoria à prática».

este especialista não duvida que técnicas como ‘profiling’ têm «a sua utilidade», considerando que «há vários aspectos que podem ajudar a investigação criminal».

lusa / sol