Curdos alertam Kerry para o ‘novo Iraque’

Depois de passar o dia de ontem em Bagdade tentando convencer Nouri al-Maliki a permitir a formação de um novo Governo capaz de apaziguar relações entre xiitas, sunitas e curdos, John Kerry chegou hoje ao Curdistão para persuadir as autoridades locais a unirem-se ao Governo central na luta contra o terrorismo sunita.

Mas em Erbil, capital da região autónoma do Curdistão, o secretário de Estado norte-americano ouviu o líder local a alertar para uma “nova realidade, um novo Iraque”. Massoud Barzani, cujas tropas curdas assumiram o controlo de Kirkurk (fora do Curdistão) quando as tropas xiitas de Maliki fugiram dos terroristas sunitas do ISIL, diz ser “óbvio que o Governo central perdeu o controlo de tudo. Tudo está em colapso – o exército, os soldados, a polícia.”

A presença dos curdos no próximo Governo iraquiano é essencial para a tentativa norte-americana de resolver a crise internamente. OS EUA ainda não apelaram explicitamente à demissão de Maliki – acusado de fomentar o sectarismo nos seus oito anos de poder – mas a lista de encontros de John Kerry no Iraque mostra ser essa a intenção.

Osama al-Nujafi, um dos principais líderes sunitas do país, e Hoshyar Zebari, curdo que desempenha as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, foram dois dos interlocutores do secretário de Estado. “O Iraque enfrenta uma ameaça existencial e os líderes iraquianos têm de responder a essa ameaça com a urgência que se exige”, afirmou Kerry ao considerar que “o futuro do Iraque depende das escolhas que serão feitas nos próximos dias”. Uma mensagem também passada a Ammar al-Hakim, líder do Conselho Supremo do Iraque, uma formação xiita que se juntou às vozes que exigem a saída de Maliki.

Mas enquanto os diplomatas tentam uma solução à mesa, no terreno o Iraque vive cada vez mais num clima de guerra civil. O Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIL na sigla inglesa), grupo que pretende a formação de um Estado sunita que inclua o noroeste do Iraque e a faixa leste da Síria, garante já controlar 70% da região fronteiriça de Anbar e reclama o controlo da maior parte dos postos fronteiriços que ligam o Iraque à Síria e à Jordânia.