Desenvolvimento acelerado de países do Sul está a tornar o mundo menos desigual

Os países do Sul, tendencialmente mais pobres, estão a desenvolver-se mais rapidamente do que os mais ricos, tornando o mundo “menos desigual”, conclui o Relatório de Desenvolvimento Humano 2013 apresentado hoje.

“Quando olhámos para os dados recolhidos, o tema do relatório deste ano tornou-se evidente, tinha de ser sobre o crescimento do Sul”, disse Khalid Malik, coordenador do relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), numa apresentação prévia à imprensa, antes do lançamento oficial na Cidade do México.

O relatório, que analisa 187 países, refere que “todos os grupos e regiões assistiram a notáveis melhorias em todos os componentes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com os progressos mais acelerados em países de IDH baixo e médio. Nesta base, o mundo está a tornar-se menos desigual”.

“Nunca na História as condições e perspectivas de vida de tantas pessoas mudaram tão dramaticamente e tão rápido” e “pela primeira vez em séculos, o Sul como um todo está a conduzir o crescimento económico e mudanças sociais”, adianta o documento, em que Noruega, Austrália e Estados Unidos surgem como os países mais desenvolvidos, considerando indicadores económicos e também sociais.

Num cenário de melhorias generalizadas, destacam-se países do Sul como Timor-Leste, que ganhou cinco posições desde 2007, mas também Angola e Moçambique estão entre aqueles cuja pontuação subiu mais de dois por cento ao ano desde 2000.

Apesar da subida de pontuação, Moçambique mantém-se no fundo da escala, ocupando a 185.ª posição do IDH, acima apenas do Níger e da República Democrática do Congo.

O relatório estima que as três maiores economias do Sul – China, Índia e Brasil – terão um peso maior do que Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá.

A alavancar a melhoria estão investimentos na Educação, Cuidados de Saúde e Programas Sociais, além de um envolvimento crescente dos países em desenvolvimento com um mundo “cada vez mais interligado”.

O documento sustenta ainda que instituições globais como o Banco Mundial ou o Conselho de Segurança da ONU estão desligados das novas realidades, sendo ainda dominados por países do Norte.

Os países e territórios que registaram a maior evolução do IDH nos últimos 12 anos são Hong Kong, Letónia, Coreia do Sul, Singapura e Lituânia, incluindo-se no grupo de muito alto desenvolvimento, em que se inclui Portugal, no 43.º lugar.

Argélia, Cazaquistão, Irão, Venezuela e Cuba foram os cinco melhores no grupo de IDH elevado, enquanto no grupo de IDH médio se destacaram Timor-Leste, Camboja, Gana, Laos e Mongólia.

O relatório do PNUD apresenta um ranking alternativo em que a pontuação é ponderada pelo nível de desigualdades no país, e neste Angola destaca-se pela negativa, perdendo mais de 40 por cento da pontuação.

Também os Estados Unidos são penalizados pela desigualdade, recuando de 3.º para 16.º, e países como a Suécia sobem.

Na apresentação prévia do relatório, Khalid Malik, salientou que nos países em desenvolvimento, que em muitos casos estão a democratizar-se, a ascensão de uma classe média educada representa uma oportunidade, mas também desafio.

“Os cidadãos [destes países] estão a mudar. São mais educados, estão melhor informados. Exigem ser tratados com respeito, querem trabalho. Estes Estados têm de estar atentos e criar condições para a estabilidade social”, disse.

Se as elites destes países “não tomarem conta dos interesses dos seus cidadãos, não vão resistir”, concluiu.

Lusa/SOL