Desperdício alimentar é ‘crime’ contra os que ‘passam mal’

O porta-voz da Conferência Episcopal, o padre Manuel Morujão, considerou hoje o desperdício alimentar “um crime contra aqueles que estão a passar mal”, sublinhado que há “inércia e falta de iniciativa para rentabilizar o que sobra”.

“sendo a alimentação um assunto de emergência nacional porque há franjas da nossa população que sabem que a palavra fome não está no dicionário a mais, mas é uma experiência viva que sentem, todo o desperdício é de alguma maneira um crime contra aqueles que estão a passar mal sobretudo nestes tempos de crise. é uma desonestidade que importa evitar”, disse manuel morujão.

o porta-voz da conferência episcopal portuguesa comentava assim as primeiras conclusões de um estudo nacional sobre desperdício alimentar, antecipadas hoje pelos jornais público e expresso, que indica que portugal perde anualmente um milhão de toneladas de alimentos.

o valor corresponde a 17 por cento dos alimentos que o país produz para consumo humano e as perdas ocorrem ao longo de toda a cadeia de aprovisionamento (produção, transformação e consumo).

apesar do valor ser inferior à média europeia, cada habitante português desperdiça 97 quilos de alimentos por ano.

“não é por má intenção que estas coisas acontecem. acho que há inércia e falta de iniciativa para rentabilizar aquilo que sobra. o que sobra a alguém é o que falta a outras pessoas, que vivem com carências alimentares, por vezes graves”, sublinhou manuel morujão.

o porta-voz da conferência episcopal sublinhou que em portugal existem já boas iniciativas de combate ao desperdício, nomeadamente nos restaurantes, defendendo o reforço do investimento nesta área.

“há já belas iniciativas daqueles que recorrem a restaurantes e outras casas de alimentação para darem depois [as sobras] a obras de assistência social, cantinas, refeitórios sociais e, muitas vezes, levando a alimentação à casa das pessoas que são conhecidas como tendo necessidades alimentares”, disse.

“é uma frente de batalha em que é preciso investir para que haja menos desperdícios e que mais pessoas sintam que na sua mesa não falta o pão de cada dia. é uma questão de estrita justiça social[…]as questões de alimentação são questões sobrevivência e do mínimo de dignidade humana que devem ter todos”, acrescentou.

lusa/sol