Direito à abstenção

O Presidente Cavaco lançou o mote e, de repente, parece que se tornou dogma da democracia: os que se abstêm deviam perder os seus direitos cívicos e políticos (nomeadamente, o de criticarem governos). Alguns comentadores chegaram a chamar, sem rebuços, ‘irresponsáveis’ aos abstencionistas.

nestas eleições, concretamente, não me abstive. achei importante dar o meu contributo para a defenestração política de sócrates. não por causa de ‘medidas difíceis e duras’. mas por ter lançado o país numa crise muito mais aguda e desesperada do que a generalidade dos outros. e pelas suas características: a espécie de curso descarado, os projectos de engenharia técnica vergonhosos, as milhentas trapalhices, as fúrias pouco democráticas, o estilo de amigos que promovia no estado, etc. sócrates desesperou-nos com um carácter abaixo dos mínimos – e custa levar a sério quem esteve com ele de alma e coração até ao fim.

isto não implica abdicar do meu direito à abstenção, um direito democrático incluído no direito de votar. sobretudo, quando não vejo partidos defenderem as politicas sociais que prezo (dos tempos em que havia programas seriamente sociais-democratas ou democratas-cristãos) – e que o fim da ameaça soviética tornou, infelizmente, fora de moda.

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