Dito&Feito

Passos Coelho tem dois desafios de vulto pela frente. O primeiro é imediato e terá que o ultrapassar nos próximos dias.

o líder do psd já percebeu, ou já o fizeram perceber, que a ideia de chumbar o orçamento para 2011 é politicamente suicida. e já compreendeu que a sua margem de recuo é mínima e estreita, depois de ter falado de mais e vezes de mais sobre o tema, radicalizando imponderadamente a sua posição e o seu discurso.

agora, terá que revelar todo o seu talento político para dar o dito por não dito. para não se afundar num voto irresponsável e afundar, com ele, o país. até porque a única maneira de obrigar josé sócrates a pagar o desastre a que conduziu a economia e as finanças nacionais é forçá-lo a ficar no governo nos próximos meses, enfrentando os protestos da crise, o aumento do desemprego, o descalabro anunciado do défice de 2011.

o segundo desafio de passos coelho é de médio prazo e bem mais complicado. a receita de sócrates para compor o défice, com os seus vários pec, abateu-se, uma vez mais, sobre os funcionários públicos. mas deixou quase incólume o gigantismo do aparelho de estado com os seus incontáveis braços (empresas públicas e municipais, institutos, fundações, gabinetes e seus derivados), onde se alberga a sua clientela, em milhares de empregos improdutivos – que são a sua última e intocável base de apoio partidário e eleitoral.

ao despesismo deste polvo gigantesco de serviços e repartições clientelares, com empregos e mordomias à discrição (direito a carros e motoristas, despesas de representação, refeições e viagens bem pagas), juntam-se os gastos milionários com pareceres de juristas e advogados amigos, com gabinetes de comunicação e empresas de promoção de eventos, etc., etc.

pior ainda: à colossal dívida escondida das empresas do sector público (da estradas de portugal à parpública, da rtp à cp) somam-se os encargos galopantes da política socrática de atirar as despesas para gerações e anos futuros: dos juros crescentes da dívida aos custos imparáveis das parcerias público-privadas ou da factura dos fundos de pensões. são milhares e milhares de milhões de euros que manterão o défice de 2011 – e de 2012 e de 2013… – em níveis insustentáveis.

como irá passos coelho no papel de primeiro-ministro, provavelmente já em 2011, resistir a este monstro despesista? sabendo-se, ainda por cima, que o clientelismo partidário no aparelho de estado não é só uma doença congénita do ps, mas também do psd?

jal@sol.pt