Dividendos: bons, maus, ou simplesmente pegajosos?

Os dividendos são realmente importantes para tomar decisões de investimento? Bem, há quem lhes dê importância, mas também há quem os despreze completamente

Segundo um estudo da Allianz Global Investors, que abarcou cerca de uma trintena de países, Portugal ocupa o segundo lugar dos mercados acionistas num indicador: pelos dividendos pagos pelas empresas. Com 4,4% dos dividendos ilíquidos em relação ao valor das ações, Portugal só é ultrapassado pela Espanha (4,9%), e apresenta uma rentabilidade superior à média europeia (3,5%). O estudo foi divulgado pelo Jornal de Negócios

Comecemos do início: o que é um dividendo? É parte do lucro de uma empresa que é distribuído pelos acionistas. Uma empresa que tem uma cotação de 5 euros e que teve um lucro por ação de 25 cêntimos pode, por exemplo, decidir distribuir pelos acionistas 10 cêntimos por ação como dividendo.

Agora, outra pergunta: é bom um mau as empresas distribuírem dividendos elevados? Não há uma resposta concreta para esta questão.

Há quem valorize dividendos elevados, razão pela qual há uns anos a tabaqueira Philip Morris distribuía dividendos equivalentes a 10% do valor das suas ações. Tentava assim convencer os investidores a compraram ações de uma empresa fustigada por inúmeros processos judiciais de fumadores (ou de parentes de ex-fumadores já mortos) que procuravam que os tribunais reconhecessem que a Philip Morris não tinha alertado convenientemente os fumadores dos perigos do tabaco, e que exigiam indemnizações multimilionárias. Além disso, o consumo de tabaco, o principal negócio da empresa, está a diminuir no mundo desenvolvido. Tudo boas razões para a Philip Morris pagar esses generosos dividendos de 10% da sua cotação.

Depois, existe (genericamente) um conflito de interesses entre a administração de uma empresa e os seus acionistas: enquanto a administração pode querer o dinheiro dos dividendos para comprar outras empresas, que sejam menos sensíveis aos ciclos económicos, para terem lucros mesmo quando a economia está em recessão – ou seja, querem diversificar os negócios em que a empresa ou o grupo de empresas está presente – os investidores podem dizer: não, passem-nos para cá dividendos, que com eles comprarei ações de outras empresas, fazendo eu próprio a diversificação. Como as empresas que gerem outras empresas – as holdings – costumam negociar abaixo do seu valor contabilístico (dos seus ativos menos os seus passivos) este é um bom argumento para a distribuição de dividendos. Há, todavia, um contra: inevitavelmente, quando se distribuem dividendos pagam-se impostos sobre os mesmos, o que quer dizer que a empresa pode distribuir 10 cêntimos por ação, mas o investidor só receber sete.

Uma última característica sobre os dividendos é que tendem a ser “pegajosos” (”sticky”, no original inglês). Isto significa que as empresas escolhem um valor para os dividendos que vão distribuir, e mantém-se fiéis a esse valor, mesmo em períodos de recessão económica, porque baixar o valor dos dividendos poderia ser entendido como um sinal que a empresa estaria a passar por dificuldades.

Voltando agora ao início: porque é que a bolsa portuguesa tem uma taxa tão alta de distribuição de dividendos? Porque a situação económica do país não é brilhante, e porque os ratings para a dívida de Portugal são maus (em quatro agências de rating reconhecidas pelo Banco Central Europeu, três consideram a dívida portuguesa como “lixo”), e estes são fatores que fazem descer o valor das ações, subindo por essa via taxa de rentabilidade dos dividendos distribuídos.

Por fim, os dividendos são realmente importantes para tomar decisões de investimento? Bem, há quem lhes dê importância, mas também há quem os despreze completamente, valorizando outros indicadores das empresas, como os lucros por ação.

E há também muitos investidores que não ligam a análises sobre os indicadores das empresas, limitando-se a olhar para os gráficos das cotações e daí tirando as suas conclusões. É a “análise técnica”, uma “ciência” que eu não domino. Só ligo aos indicadores das empresas, a chamada “análise fundamental”. Por vezes, resulta muito bem.