Encarnação abandona Câmara de Coimbra ‘farto de aturar o Governo’

Carlos Encarnação justificou hoje a renúncia à presidência da Câmara de Coimbra por questões de saúde, e revoltado pelas atitudes do Governo, declarando que a «gota» de água foi o cancelamento do projecto do metropolitano.

«estou farto de aturar o que este governo tem feito em relação a coimbra», declarou hoje aos jornalistas num sessão de despedida, enumerando também os entraves ou cancelamento de outros projectos, como a estação ferroviária de coimbra-b, o ic3, a auto estrada coimbra-viseu e o novo hospital pediátrico.

carlos encarnação recordou que em 2005, com um concurso lançado para o metropolitano ligeiro de superfície, o primeiro ministro cancelou-o, reformulando o projecto, que agora voltou a abandonar.

o concurso da auto-estrada coimbra-viseu «foi lançado duas vezes com o mesmo vício, que até parece de propósito», e chumbado pelo tribunal de contas. o hospital pediátrico «esteve dois anos parado por falta de pagamento aos empreiteiros», recordou.

«há uma quantidade de obras que ao longo do tempo têm vindo a ser olhadas com absoluto desprezo por parte do governo e são questões absolutamente essenciais para o futuro de coimbra, porque delas depende o planeamento da cidade e a organização da cidade», sublinhou.

carlos encarnação disse que «coimbra não pode continuar assim», e que ele próprio não poderia também continuar a tolerar isso «em nome da dignidade de coimbra», e por «uma questão de honestidade política» para com a cidade que o elegeu.

na sua perspectiva, «a democracia é equidade», e o «governo não tem qualquer sentido de equilíbrio» do desenvolvimento nacional, e em relação a coimbra o que tem feito em relação às obras essenciais «é cancela-las ou adia-las ad eternum».

«não tendo eu idade, nem saúde, nem disposição anímica para continuar nisto, a única solução que eu tenho, como pessoa absolutamente livre, e independente, é bater com a porta. dizer: acabou o meu terceiro mandato hoje, e façam favor de ser felizes, mas continuando a fazer o que estão a fazer com coimbra comigo não contem», declarou.

sobre o seu futuro, carlos encarnação realçou que já tem 64 anos, que já não tem ambições políticas, e que se quer dedicar à família.

«não me estou a ver noutro desafio político», frisou, acrescentando que o seu contributo para o país até pode ser a trabalhar em instituições de solidariedade social.

a reflectir na decisão que hoje revelou publicamente há um mês e meio, confessou que o passado dia 8 foi decisivo. foi nesse dia que assumiu o abandono da presidência da câmara de coimbra, uma autarquia para a qual fora eleito pela primeira vez, vereador, há 30 anos.

sucede-lhe agora no cargo o seu vice-presidente, joão paulo barbosa de melo.

 

sol/lusa