Encruzilhada

O Banco Central Europeu anunciou a decisão de manter as taxas de juro inalteradas, não obstante de antecipar que a taxa de inflação possa superar o limite de 2%

Por Teresa Candeias, diretora da Licenciatura em Gestão da Universidade Lusófona do Porto

O último trimestre do ano aproxima-se e assume particular relevância na vida dos cidadãos. Nesta fase do ano fazem-se balanços, projeções e concebem-se e desenham-se estratégias para o ano vindouro. A elaboração do orçamento de Estado é exemplo disso. Por um lado, espera-se que o orçamento faça reflexo da estratégia delineada para o país, por outro, a sua elaboração e aprovação terão impacto nas decisões dos diferentes agentes económicos, sejam eles empresas ou cidadãos. Este trimestre é decisivo. A negociação do OE para 2022 decorre num contexto distinto do de outros anos. O Governo sabe que para o fazer aprovar na Assembleia da República necessita do apoio dos seus parceiros naturais e para tal terá de ceder nalgumas matérias. Acresce que o anúncio dos milhões da tão badalada bazuca cria expectativas acrescidas sobre a possibilidade de um aumento da despesa pública com vista a responder de forma positiva a tais exigências reforçando a sua capacidade negocial. 

No entanto, o cenário é complexo. Este mês, o Banco Central Europeu anunciou a decisão de manter as taxas de juro inalteradas, não obstante de antecipar que a taxa de inflação possa superar o limite de 2%. Este limite poderá ser excedido, apenas, de forma transitória sendo alvo de debate o seu cariz transitório. Se não o for, vislumbrar-se-á a necessidade de rever em alta a taxa de juro. Porém, a decisão de manter as taxas de juro é acompanhada do anúncio de uma redução das compras mensais de dívida que se realiza ao abrigo do programa de resposta à crise pandémica e que muitos especialistas antecipam que termine em 2022. Tal facto pode ser entendido como uma redução dos estímulos à economia, o que obrigou Lagarde a justificar tal redução como um mero ajustamento decorrente da revisão em alta das previsões de crescimento económico para 2021. No caso de se verificar uma antecipação da subida das taxas de juro acompanhada de uma redução da compra de dívida esta terá efeitos significativos em países com elevadas dívidas soberanas por força do aumento do seu custo.

O contexto descrito é profundamente complexo e particularmente volátil. Internamente, o cenário faz prever um aumento da despesa pública por força da negociação do orçamento de estado. Externamente, as previsões de crescimento económico e consequente redução de compra da dívida, bem como a possibilidade de se verificar um aumento das taxas de juro inerente ao combate da inflação, agravará o seu custo o que imporá rigor e equilíbrio das finanças públicas. Perante tal encruzilhada, resta-nos aguardar para perceber que caminho seguirá o país.