Escultura de Cabrita Reis ao abandono

Foi a representação oficial de Portugal na 50.ª Bienal de Veneza, em 2003. Encontra-se desde 2004 no Pátio da Inquisição e desde então a única intervenção que recebeu foi soldarem as portas, que batiam ao vento. Exposta aos elementos e a degradar-se, «não é propriamente uma imagem gratificante», diz Albano Silva Pereira. Por que se…

Foi a representação oficial de Portugal na 50.ª Bienal de Veneza, em 2003. Encontra-se desde 2004 no Pátio da Inquisição e desde então a única intervenção que recebeu foi soldarem as portas, que batiam ao vento. Exposta aos elementos e a degradar-se, «não é propriamente uma imagem gratificante», diz Albano Silva Pereira.

Por que se encontra a escultura neste estado?

Porque foi instalada provisoriamente. Estava previsto ficar três, quatro meses.

E depois era suposto ir para onde?

Isso é um problema da Câmara. Instalem-na no Convento de São Francisco, instalem-na onde quiserem. Eu não tenho nada a ver com isso. Primeiro, o pátio não tem dimensão para esta escultura. Segundo, é uma escultura de interior, não foi feita para estar ao vento e à chuva. Quando foi exposta em Veneza estava num armazém. Tem trinta e tal ou 40 portas, que são móbiles e com o vento acabam por cair. A iluminação está despedaçada, o executivo anterior soldou as portadas – imagine.

A quem pertence a escultura?

À Câmara, à cidade. Eu não posso chegar ali e dinamitar aquilo. Mas não é só essa. Tenho o maior parque de esculturas do Rui Chafes no Jardim das Sereias. Estão numa lástima.

Mas essas são de exterior, porque estão assim?

Por negligência. Por um lado tem os vândalos e por outro tem a Câmara a falar de cultura só quando lhe convém.

E já falou com Cabrita Reis?

Já lhe falei várias vezes. 

E o que acha ele?

Acha que isto é um crime. Eventualmente quer uma indemnização… Não sei. 

Se a escultura é de interior porque não a guarda?

Porque não tenho reserva, não tenho armazém. Estamos à espera de um armazém desde que o CAV nasceu. Temos um armazém fora daqui que alugamos e pelo qual pagamos uma renda. Esse é um dos grandes problemas de logística desta instituição. Outro dos problemas é que o ar condicionado não funciona convenientemente desde a inauguração. Ouça, isto está a bater no osso. 

Quais são as consequências dessa falha no ar condicionado?

Ao longo do ano tem uma oscilação brutal de humidade e de temperatura, porque o ar condicionado não mantém o equilíbrio. As pessoas têm de ter radiadores todo o inverno aos pés para trabalhar. Neste momento estão cá dentro 27 graus, quando as obras deviam estar a 20-22. Isto é papel, as fotografias encarquilham. Estamos a falar de um equipamento que representou seguramente em 20/30% do custo da obra, que está no coração da segurança e da conservação desta coleção. Até hoje não consegui resolver este problema gravíssimo, tal como não consegui resolver o problema da escultura do Cabrita Reis – parece um enigma. Por fim, ao fim de doze anos fizeram o elevador, montaram um monta-cargas, e não funciona. Tem aqui o retrato fiel das contrariedades que o diretor de uma instituição tem de produzir cultura.