Estádios abaixo, dinheiro ao alto

Há duas semanas ouvi uma frase que me deixou perplexo. Aquele que era tido como o maior pessimista da história recente de Portugal dizia com todas as letras que acredita no futuro do país. Lamentei que a entrevista terminasse daquela forma, pois gostava de ter ouvido mais argumentos sobre as razões que levam agora Medina…

é comum ouvirmos que quando se anda em maré de azar, essa maré trará mais azar. da mesma forma, quando o vento sopra de feição, há mais possibilidades de continuar assim. basicamente, muitos acreditam que energia positiva puxa carga boa e onda ruim atrai forças negativas.

uns dias depois de ouvir a frase de um dos homens que primeiro alertaram o país para o abismo para que caminhava, li uma notícia espantosa sobre um clube de futebol. a união de leiria, que jogava num estádio feito para o europeu de 2004 – com capacidade para 30 mil espectadores – perante uma assistência que raramente ultrapassava as 900 pessoas, decidiu este ano começar a utilizar o estádio da marinha grande – com capacidade para sete mil espectadores. a decisão, tanto quanto percebi, deve-se ao preço exigido pelos responsáveis do estádio de leiria para que o clube lá jogasse e treinasse. desta forma, a equipa irá jogar na localidade vizinha e para compensar a utilização desse campo terá de construir, num futuro próximo, três relvados sintéticos para as equipas da marinha grande.

é difícil perceber por que motivo em portugal se arrastam problemas por falta de coragem política ou empresarial. é evidente, há muito, que a maioria dos estádios construídos para o euro-2004 não tem qualquer viabilidade financeira. por mais dinheiro que se enterre lá, nada os fará ser rentáveis. por isso, todos os anos, os estádios de leiria, aveiro, coimbra e algarve, só para citar os mais evidentes, perdem milhões de euros. não seria preferível que alguém tivesse a coragem de dar o exemplo e determinasse que um estádio ia abaixo para se ter uma poupança considerável? até porque nesse mesmo espaço pode ser erguida alguma coisa que não signifique prejuízo. na maré que corre, favorável a mudanças, seria bom que tal acontecesse. e que com a poupança realizada construíssem espaços que pudessem ser usados por muitas mais pessoas do que aquelas que se deslocam aos referidos estádios para ver a sua equipa jogar.

comungando do optimismo de medina carreira, acredito que num futuro próximo alguns desses elefantes brancos acabarão por ruir. perderam-se sete anos – não é preciso perder-se mais tempo e dinheiro. o país há-de conseguir dar a volta ao jogo. com estes treinadores ou outros. precisa é de alguém que não tenha medo de decidir.

vitor.rainho@sol.pt