Etiópia. Barragem que pode deixar Egito seco entra em funcionamento

Esta barragem, uma das maiores do mundo, pode secar as reservas de água do Nilo do Egito e do Sudão.

A barragem que tem sido fonte de grandes tensões entre Etiópia e Egito voltou, esta segunda-feira, a ser alvo de controvérsias, depois do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ter lançado oficialmente a produção de eletricidade na Grande Barragem do Renascimento Etíope, no Nilo Azul, projeto milionário fortemente contestado também pelo Sudão.

Numa cerimónia realizada ao início da manhã, o chefe do Governo, acompanhado de numerosos altos funcionários, pressionou uma série de interruptores num ecrã eletrónico para pôr em marcha a primeira turbina.

“O início da geração de eletricidade nesta barragem é uma bênção, não só para nós, mas também para o Egito e o Sudão”, disse Abiy num discurso na inauguração, onde um alto responsável que participava na inauguração acrescentou que “esta grande barragem foi construída pelos etíopes, mas para benefício de todos os africanos, para que todos os nossos irmãos e irmãs africanos possam tirar proveito”.

Apesar das alegadas “boas intenções do Governo da Etiópia, o Egito e o Sudão são contra este empreendimento, considerado o maior projeto hidroelétrico do continente africano e um dos maiores do género em todo o mundo.

As autoridades egípcias, que consideram este um assunto de “segurança nacional”, temem que, no caso de a barragem ser preenchida com água demasiado rápido, isso possa provocar uma redução da quantidade de água do Nilo dentro das suas fronteiras, que serve 90% da água potável este país.

O Sudão, apesar de esperar que esta barragem ajude a regular as cheias anuais que ocorrem no país, temem que as suas próprias barragens possam ser prejudicadas caso não exista uma regulamentação do funcionamento deste projeto.

“Depois de ter começado de forma unilateral a primeira e a segunda etapas do enchimento da barragem, (…), este passo é mais uma violação pela parte etíope dos seus compromissos assumidos na Declaração de Princípios de 2015”, alertou o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio, referindo o comunicado que estabelece que a barragem não deve afetar a economia, o caudal do rio ou a segurança alimentar de qualquer dos três países.

No entanto, as negociações realizadas desde então não permitiram pôr os três países de acordo, com o Egito e o Sudão a acusarem Adis Abeba de avançar com as sucessivas fases de enchimento da barragem de forma unilateral.

O Nilo Azul, rio que conflui com o Nilo Branco e com o rio Atbara, é um dos principais afluentes do rio Nilo, sendo responsável, durante a estação chuvosa, por até 80% da água deste último.

A barragem, que apesar de não haver contabilidade oficial, está avaliada em mais de 4,2 mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros), deverá recolher 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água do rio Nilo Azul durante a época chuvosa, aumentando a reserva para 18,4 mil milhões de metros cúbicos, segundo o Governo etíope.

Situada a cerca de 30 quilómetros da fronteira sudanesa, a barragem tem 1,8 km de comprimento e 145 metros de altura.

Segundo os meios de comunicação etíopes, a produção inicial será de 375 megawatts com a entrada em funcionamento da primeira turbina, mas quando o projeto estiver completo, num prazo de dois anos, terá uma capacidade total de 5.200 megawatts.