Eucaliptos ganham terreno

Quase dois mil hectares de eucaliptal novo foram plantados em território português no primeiro ano do Regime Jurídico de Arborização e Rearborização (RJAAR), o polémico ‘simplex’ para a floresta que entrou em vigor em 2013. Os dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) avançados ao SOL dão conta de mais 1.744…

Se às novas arborizações com esta árvore originária da Austrália somarmos as rearborizações (ou seja, plantações com a mesma espécie), totalizam-se cerca de 16. 086 hectares de eucalipto plantado no país num ano – uma área quase idêntica à da ilha do Faial, nos Açores, ou a 16 mil estádios de futebol.

Neste primeiro ano, acrescenta o mesmo organismo, tanto o sobreiro como o pinheiro-manso ficaram bastante abaixo em termos de área, com um total, entre as duas espécies, de 6.100 hectares (3.900 de arborizações e rearborizações de sobreiro e 2.200 de pinheiro-manso) – ou seja, menos de metade da área plantada foi ocupada por espécies diferentes do exótico eucalipto que já é a espécie que ocupa mais área em Portugal.

Neste número, incluem-se, explica o ICNF, “as (re)arborizações realizadas com fundos dos proprietários e gestores florestais, as (re)arborizações efectuadas com apoios financeiros públicos e as realizadas no âmbito do ICNF”. Traduzindo em percentagens, as acções “envolvendo espécies do género eucalyptus representam 52% da superfície total de arborizações e rearborizações efectuadas no âmbito do regime das arborizações”.

João Pinho, do ICNF, explica estes resultados pelo facto de os eucaliptos serem “espécies cujos povoamentos florestais são regenerados por métodos artificiais, o que implica sempre a necessidade de autorização ou comunicação prévias”. Em segundo lugar, diz o vice-presidente daquele organismo, “os eucaliptos são espécies cuja utilização em muitas situações necessitava de autorização ou comunicação prévia, estando os gestores florestais já habituados a cumprir este procedimento administrativo”. Finalmente, assevera, a cultura dos eucaliptos, “para manter a sua rentabilidade, implica uma renovação periódica mais frequente dos povoamentos instalados”.

Por isso, acrescenta João Pinho, “estas acções com eucalipto correspondem sobretudo a reflorestações em locais já ocupados com eucalipto”. E nota que a área agora plantada representa apenas 0,21% da área total de eucaliptal já existente no país – 812 mil hectares, segundo os dados preliminares do 6.º Inventário Florestal nacional, de 2010. 

Empresas em risco

Domingos Patacho, da Quercus, sublinha, porém, que os dados do Inventário estão “desactualizados, pois foram reunidos há já cinco anos”. Por isso, alerta, é “provável que a área de eucalipto seja agora bastante superior”.

O especialista em florestas lamenta que, tendo em conta os dados disponíveis, “o Governo esteja a autorizar conversões de culturas para eucaliptos, o que aumenta as monoculturas e os riscos associados às mesmas e representa uma diminuição de área dedicada a outras árvores autóctones”. Há, recorda, “imensas pequenas e médias empresas no país, como as serrações, que vivem da madeira de pinho”.

Para João Pinho, do ICNF, a “aplicação da legislação de arborização vem exactamente na linha do que se verificava anteriormente, uma vez que eram sobretudo as acções de florestação com espécies de rápido crescimento (eucalipto) que exigiam a autorização”. 

Este responsável considera que o actual regime “até é mais rigoroso neste aspecto, uma vez que sujeita a autorização muitas acções com estas espécies que antes não estavam”.

Domingos Patacho salienta, por seu lado, que “há uma tendência de aumento” do eucaliptal plantado. Se nos dados for incluído o eucaliptal ilegal plantado no país, “a situação é preocupante, pois a área plantada subiria bastante”. 

Segundo os dados do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, entre 2013 e 2014 foram detectados 381 eucaliptais ilegais. A área em causa, porém, é desconhecida: questionado pelo SOL, o ICNF, que também emite autos, diz que “é impossível apurar essa informação, uma vez que existiam vários regimes distintos para aprovação, autorização ou licenciamento de acções de (re)arborização”.

sonia.balasteiro@sol.pt