Fogos. Ao contrário da ministra, Costa desvaloriza falta de disponibilidade europeia

Primeiro-ministro compreende falta de resposta europeia aos fogos que assolaram o território nacional, lembrando que Portugal também não poderia ajudar nenhum parceiro europeu caso lhe fosse pedido um meio aéreo

O primeiro-ministro agradeceu ontem o apoio internacional no combate aos incêndios em Portugal, salientando a importância dos meios aéreos enviados por Itália, Rússia, Marrocos e Espanha.

Ao contrário da posição adotada pela ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, António Costa não atacou a ausência de respostas por parte dos Estados da União Europeia aos pedidos de ajuda feitos por Portugal.

“Não fomos o único país da União Europeia a ter incêndios. Além disso, alguns Estados tinham meios inoperacionais e não puderam enviar”, defendeu o primeiro-ministro, adiantando que Portugal, por exemplo, “não poderia ajudar qualquer outro país caso lhe fossem pedidos meios, uma vez que tinha todos os seus aviões a serem utilizados.

”Apesar da compreensão, não deixou de sublinhar o esforço de países como Itália, Rússia e Marrocos, que acederam rapidamente a enviar aviões: “Todos, quer por via da Europa, quer por via dos acordos bilaterais, fizeram um esforço muito grande.”

A posição do chefe de governo veio assim pôr água na fervura, depois de Constança Urbano de Sousa ter sido muito dura nas críticas lançadas à União Europeia. “Estava à espera de uma maior solidariedade dos parceiros europeus”, disse a governante na quinta-feira.

Esta é já a segunda vez que a ministra da Administração Interna vê a sua posição ser desvalorizada: a primeira vez foi por Marcelo Rebelo de Sousa, que garantiu não ter havido “má vontade europeia”.

Costa quer mais prevenção Além dos agradecimentos, Costa deixou claro que é preciso apostar mais na prevenção, referindo que o dinheiro gasto com o combate aos incêndios é um desvio de verbas da segurança interna, por exemplo, “das esquadras e das condições de trabalho das polícias” que, segundo afirmou, “são uma vergonha nacional”.

As declarações do primeiro- -ministro foram feitas na base aérea de Monte Real, em Leiria, local escolhido para agradecer o apoio de Marrocos, Rússia, Itália e Espanha.

A dimensão da área ardida em Portugal este ano é tão grande – mais de 100 mil hectares – que é já metade de toda a área ardida na União Europeia. Entre as regiões mais devastadas encontra-se a Madeira – onde não foram usados meios aéreos – e, no Continente, Aveiro, Viseu, Leiria, Viana do Castelo e Porto.

De entre a ajuda enviada para Portugal registam-se dois Canadair de Marrocos, um de Itália e dois de Espanha. Já a Rússia enviou dois meios pesados – Beriev – com capacidade para transportar entre 12 e 15 toneladas de água.

Ontem, os dois meios russos sofreram pequenos acidentes, estando neste momento operacionais. Um dos Canadair enviados pelo governo marroquino também teve uma pequena avaria, o que o obrigou a ser reparado na base de Monte Real.