Foto de Aylan usada para mostrar os riscos de não saber nadar

O Conselho Português de Protecção Civil, uma organização não governamental, usou a imagem de Aylan, o menino sírio que fugiu com a família do seu país à procura de uma família melhor, para mostrar as consequências de não se saber nadar.

“Ensine o seu filho a nadar, para não passar o resto da vida a lamentar. Embora a imagem seja de uma criança migrante que infelizmente morreu na travessia, estas imagens devem ter por utilidade a dupla sensibilização para o drama da migração e simultaneamente de acção preventiva dos afogamentos em quaisquer circunstâncias. Esta é a nossa forma de denotar o nosso pesar e intervir preventivamente, desejando-se que esta vida não se tenha perdido em vão eque a divulgação da imagem contribua para que muitas outras vidas sejam poupadas ao sofrimento e morte. Lamentamos profundamente qualquer morte, mas esta imagem causa-nos um profundo pesar que não poderíamos deixar de expressar”, lia-se na legenda da foto em que aparece o corpo de Aylan.

A publicação foi muito criticada pelos utilizadores do Facebook, o que levou a organização a apagá-la. No entanto, o onselho Português de Protecção Civil decidiu partilhar novamente a imagem, mas desta vez com uma outra legenda.

“Lamentamos sempre a morte de crianças mas pouco fazemos para evitar estas tragédias. Infelizmente mobilizarmo-nos mais por outras espécies amimais do que pela nossa própria espécie”, lê-se na legenda da imagem, que mostra o corpo do menino sírio e, em baixo, um grupo de pessoas a salvar uma baleia.

Os seguidores da página voltaram a insurigir-se contra as escolhas do Conselho Português de Protecção Civil, criticando a comparação. “Vocês deviam ter vergonha e apagar isto” é apenas um dos comentários.

A organização começou por responder aos seus seguidores: “Caros comentadores, respeitamos a vossa opinião, mas temos a nossa e o direito a exprimi-la. Ninguém é forçado a visitar a nossa página. Temos por estas vítimas o maior respeito e pesar pela sua morte que lamentamos profundamente”. No entanto, tanto o comentário como a publicação em si acabaram por ser apagados.

Para continuar a passar a mensagem, o Conselho decidiu partilhar um vídeo institucional com a frase “Ensine as suas crianças a nadar, para não passar o resto da vida a lamentar”. Os seguidores da página continuaram a não gostar da postura da organização. “E agora mudam a imagem como se não tivesse cá estado a outra com esta mesma frase nojenta!”, lê-se num dos comentários.

Entretanto, houve quem confundisse esta organização com a Autoridade Nacional da Protecção Civil, o que levou este organismo a emitir um comunicado através do Facebook:

“No seguimento de uma publicação divulgada hoje, 3 de setembro, nas redes sociais, associando uma imagem dramática de uma criança morta em naufrágio, recolhida na costa Turca, a recomendações no domínio da segurança, e que está a ser confundida como proveniente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, entende-se prestar o seguinte esclarecimento:

A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e o Conselho Português de Protecção Civil (CPPC) não são uma e a mesma entidade.

A ANPC é um organismo público, da administração central do Estado, tutelado pelo Ministério da Administração Interna.

O CPPC é uma organização não governamental, de direito privado.

Embora respeitemos a pluralidade de opiniões, consideramos que as intervenções do CPPC, por não serem minimamente representativas, nem idóneas, ou sequer terem respaldo na realidade do sector, não são susceptíveis nem merecedoras de serem equiparadas ou confundidas com as da Autoridade Nacional de Protecção Civil.

Por último, a conduta da Autoridade Nacional de Protecção Civil em matéria de comunicação e informação pública procura promover uma cultura de prevenção e educação para o risco baseada em mensagens positivas e destinadas à capacitação dos seus cidadãos na promoção de atitudes e comportamentos pró-activos em matéria de protecção e segurança, não se revendo neste tipo de conteúdos, que procuram o aproveitamento mediático a todo o custo, e que em nada prestigiam a actividade desenvolvida por todos quantos dedicam, diária e permanentemente, o seu trabalho em prol da protecção dos cidadãos e comunidades”.

Notícia actualizada às 19h36

joana.alves@sol.pt