Ganhar à Alemanha ‘tem gosto especial’ para os políticos

A glória no Europeu não tira o país da crise, mas dá uma ajuda. «Todas as vias para o optimismo e de conseguimento no desempenho contribuem para recuperar a nossa confiança colectiva», diz a presidente do Parlamento, Assunção Esteves.

os vários dirigentes políticos ouvidos pelo sol confessam que vão estar atentos ao que se passa no euro de futebol. e a vitória sobre a alemanha, desejada por cavaco silva quando recebeu os jogadores em belém, é por certo um bom começo – com ou sem simbolismo anti-merkel assumido.

«o gosto especial não advirá do que se passa na europa política, mas era uma resposta merecida a alguma arrogância da alemanha futebolística», responde ao sol o líder parlamentar do psd, luís montenegro. o companheiro de coligação nuno magalhães também ‘finta’ o significado político da partida. «dá sempre um ‘gosto especial’ ganhar a uma das melhores selecções do mundo», afirma o líder de bancada do cds.

seguro garante que não mistura política e futebol

o secretário-geral do ps, antónio josé seguro, demarca-se, em tom sério, de uma desforra em campo às humilhações da austeridade imposta por berlim. «não misturo futebol com política nem confundo as políticas da senhora merkel com a alemanha», salvaguarda o líder da oposição. assunção esteves também diz que, «na união europeia, estamos todos no mesmo barco». o ministro da administração interna, miguel macedo, diz que, hoje, «é apenas um jogo de futebol».

a eurodeputada bloquista marisa matias discorda: «a justiça também pode ser feita por vias simbólicas e este jogo é quase um campeonato», diz. «haverá muito mais que dez milhões de adeptos a torcer por portugal. digamos que a alemanha não está propriamente no top da popularidade nos dias que correm».

bernardino soares assume o ‘gostinho especial’ de vencer os alemães «por todas as razões e mais uma». mas, prevenindo já eventuais aproveitamentos do governo, o líder parlamentar comunista atira: «esperemos que os responsáveis pela situação em que estamos não venham agora tentar aproveitar o brilho da selecção para esconder o desastre das suas políticas».

a solução para o desânimo colectivo com a crise não passa pelos relvados da polónia e da ucrânia, defende a oposição. «pode ajudar, mas os portugueses só recuperam a confiança se acreditarem no futuro. e isto só será possível com crescimento económico e com a manutenção dos postos de trabalho», diz antónio josé seguro.

heloísa apolónia, deputada de os verdes, é lapidar a separar as alegrias do futebol das tormentas da austeridade: «os portugueses conseguem distinguir bem um euro do outro euro!». marisa matias, corrosiva, sublinha que «as agências de rating não parecem ser sensíveis às classificações futebolísticas».

a troika é mais importante

à direita, o discurso é diferente. nuno magalhães desvaloriza o efeito psicológico dos sucessos futebolísticos para puxar pelas «sucessivas avaliações positivas da troika, como a desta semana». a táctica de puxar pelos galões do governo serve também a luís montenegro: a confiança no país «constrói-se no trabalho do dia-a-dia» ou «na capacidade de gerirmos bem os recursos públicos e de nos entendermos e concertarmos para estimular a actividade económica».

sobrepondo o mundo real ao futebol, o eurodeputado mário david preferia vencer a alemanha «em termos económicos, financeiros e sociais». pessimista, o social-democrata recorda a máxima futebolística de que, «no fim, ganham os alemães». heloísa apolónia e bernardino soares não arriscam previsões no jogo de hoje.

em tempos de austeridade, ficam de lado as romarias ao estrangeiro. os políticos prometem estar colados à televisão. «tentarei ver todos os jogos que puder. gosto muito de bom futebol», confessa a presidente da ar, que gostava de ir ver a final ao vivo, «tendo portugal como protagonista». mário david ‘já está’ na final: «vou a convite da fundação ucraniana yes, a cuja direcção pertenço».

manuel.a.magalhaes@sol.pt
* com helena pereira