Gastronomia macaense deveria ser património da UNESCO

Especialistas e estudiosos da cozinha crioula de Macau defendem uma classificação a património intangível da UNESCO e uma candidatura de Macau a Cidade Gastronómica, que consideram possíveis e necessárias para manter viva uma tradição secular.

«Além dos casinos, a herança portuguesa, na qual a gastronomia macaense está incluída, é a diferença de Macau que é preciso preservar», defendeu hoje a autora de algumas obras sobre gastronomia macaense, Annabel Jackson, numa conferência sobre a cozinha crioula de Macau no Instituto de Formação Turística.

«É importante preservar essa tradição do ponto de vista da comunidade macaense, mas também em termos turísticos porque ela faz parte da diferença de Macau», realçou a académica ao sublinhar que a gastronomia macaense «é uma das mais antigas cozinhas de fusão do mundo».

Com uma história que se confunde com a de Macau, a cozinha macaense, que nasceu há 450 anos fruto das expedições dos portugueses, alia sabores africanos, indianos, indonésios e malaios a outros chineses que a enriqueceram relativamente às restantes cozinhas crioulas.

Ao constatar que a «globalização, ocidentalização e o facto de as novas gerações não revelarem interesse em cozinhar estão a ameaçar diferentes cozinhas», Annabel Jackson considerou «importante conseguir a classificação da gastronomia macaense pela UNESCO para a sua preservação».

«Há poucos restaurantes de cozinha macaense em Macau, apenas quatro ou cinco e a maioria com fraca apresentação, o que é um fator importante para muitos turistas», disse, referindo, porém, a aposta de alguns hotéis da região naquela gastronomia, já que para conseguirem a classificação de cinco estrelas precisam de ter cozinha macaense ou portuguesa.

A académica acredita no potencial da «diferença» de Macau e propõe mesmo uma candidatura a Cidade Gastronómica: «Há apenas duas no mundo, Chengdu (China) e Popayan (Colômbia) e se Chengdu conseguiu, Macau também conseguirá», realçou.

A Confraria da Gastronomia Macaense, com 120 associados, defende as mesmas propostas daquela académica e o seu presidente, Luís Machado, realçou estar a ser feito «todo o esforço possível» para que aquela cozinha siga os passos da francesa e da dieta mediterrânica.

«Temos falado com o Governo e mesmo altas individualidades da República Popular da China têm dado o apoio para que isso aconteça. Temos 450 anos de história de gastronomia macaense e acho que isso tem de ser dito e o mundo tem de saber», disse o responsável ao considerar as candidaturas «viáveis».

A Confraria da Gastronomia Macaense assinou hoje um protocolo com o Instituto de Formação Turística para a realização de workshops de cozinha macaense e portuguesa para promover o interesse dos hotéis do território.

Em 2011 serão realizados no Instituto de Formação Turística “dois ou três” workshops de cozinha algarvia com chefes portugueses, no âmbito da geminação entre a Confraria dos Gastrónomos do Algarve e a homóloga de Macau.

Lusa/SOL