Gays à força

O discurso público e dos partidos políticos neste assunto, como noutros, extremou-se.  Há uns quantos partidos políticos e ativistas que tomaram conta do assunto. Se alguém do PSD, do CDS ou de parte do PS ousa abrir a boca para fazer uma pergunta, é logo apelidado de ‘homofóbico’ pela outra parte do PS, pelo Bloco…

O discurso público e dos partidos políticos neste assunto, como noutros, extremou-se. 

Há uns quantos partidos políticos e ativistas que tomaram conta do assunto. Se alguém do PSD, do CDS ou de parte do PS ousa abrir a boca para fazer uma pergunta, é logo apelidado de ‘homofóbico’ pela outra parte do PS, pelo Bloco de Esquerda e pelos ativistas do regime (o PCP, como sabemos, não fez do tema bandeira).

Gays e heterossexuais são iguais. São pessoas. Podem ser histriónicas, reservadas, exibicionistas, caladas, faladoras, podem gostar de se vestir bem, podem estar-se nas tintas. Podem ser conservadoras, liberais, podem ser de esquerda ou de direita. Podem gostar de mostrar a sua vida ou de nunca a partilhar com ninguém – e estão no seu direito.

Durante muito tempo, o preconceito contra os homossexuais baseou-se no cliché: eles e elas eram isto e aquilo, e com base nessa diferença perseguia-se e excluía-se. 

O cliché ajudou sempre à perseguição. Os homens gay seriam, de acordo com esse cliché, sempre efeminados, e as mulheres sempre masculinas. E os homens gay vestiriam sempre de cor-de-rosa e as mulheres usariam o cabelo rapado e botas da tropa. 

Ora, essa é uma simplificação atroz, estúpida e falsa. A natureza humana não se reduz assim. 

Extraordinariamente, em pleno século XXI – e mesmo depois de o Estado português (e bem, no meu entender) ter legislado no sentido de permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo -, os clichés continuam.

Alimenta-se o cliché de que todos os homossexuais são histriónicos, exibicionistas e folclóricos. E que, por serem assim, iam desatar a casar no dia em que o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse possível e que, para além da aliança, ainda usariam um pin na lapela ou um autocolante na testa a anunciar ao mundo a sua nova condição. 

O Estado pode e deve dar as condições de igualdade. Mas ninguém pode obrigar as pessoas a gritarem urbi et orbi o que são ou de quem gostam. 

Dei o exemplo do casamento, mas podia dar outros. Ninguém as pode obrigar a serem gays à força. 

Penso sobretudo nas pessoas de mais idade, casais que vejo, às vezes vizinhos, ou em espetáculos, em hospitais, em cafés, em restaurantes, em viagens, unidos por uma vida em comum de 30 ou 40 anos que a última coisa que querem é anunciar ao mundo que aquela amizade afinal é outra coisa. 

E têm todo o direito à sua opção de vida, têm todo o direito de jurarem que é uma simples e casta amizade. Ninguém as pode tirar do armário à força.

Temos um Governo e um executivo na Câmara Municipal de Lisboa que entusiasticamente apoiam uma série de iniciativas para mostrarem que são modernaços e politicamente corretos. 

Esse é que é o problema: a captura do tema por alguns que se tornam os donos da verdade, os guardiões do politicamente correto – mas sempre na lógica ululante do extremo.

Qualquer pessoa moderada de bom senso que ouse abrir a boca ou fazer uma pergunta é imediatamente acusada e achincalhada. O resultado é um só: as pessoas perdem a vontade de falar. Mas pior: os partidos que deviam representar as pessoas moderadas também recuam. 

sofiarocha@sol.pt