Geografia da 1.ª Liga vai dos States à Austrália

Europa ainda domina origens dos jogadores a actuar em Portugal, mas nenhum continente tem mais países representados do que África. Só o Benfica não aproveita talentos do continente negro.

abdullah e saleh nasceram na arábia saudita e jogam no beira-mar com koukou, originário do benim. abdi largou em criança uma somália em guerra, refugiou-se na noruega e aterrou este ano no olhanense. caleb, guarda-redes do vitória de setúbal, cresceu na austrália e adoptou a nacionalidade, apesar de ter vindo ao mundo nos estados unidos, terra natal de arturo álvarez, médio do paços de ferreira com raízes em el salvador.

com 234 estrangeiros num universo de 412 futebolistas, a 1.ª liga conta esta época com representantes dos cinco continentes. e, embora a maioria dos jogadores seja proveniente da américa do sul – só o brasil fornece 124 –, não há região do globo com mais países presentes do que áfrica: dos 48 que abastecem a liga, 19 ficam no continente negro, incluindo cabo verde, guiné-bissau, angola, moçambique e são tomé e príncipe, os cinco palop.

os 45 jogadores africanos a actuar no principal escalão do futebol português estão espalhados por todos os clubes, à excepção do benfica. os ‘encarnados’ dão primazia ao mercado sul-americano (13 elementos de brasil, argentina, paraguai e uruguai) e europeu (quatro de espanha, holanda e sérvia).

paulo lopes, miguel vítor, luisinho e carlos martins são os únicos portugueses ‘infiltrados’ no plantel principal de jorge jesus, o técnico da 1.ª liga que trabalha com menos futebolistas nacionais. os outros dois ‘grandes’, fc porto e sporting, vêm logo a seguir, com seis cada um.

vítor pereira e sá pinto têm às suas ordens os maiores contingentes de estrangeiros, ambos com 18 unidades – mais uma do que jesus. mas é no balneário de alvalade que convivem mais nacionalidades: nada menos do que 12, do brasil à suíça, do chile à holanda, do peru à rússia, passando ainda por argentina, croácia e marrocos, além de portugal.

estrangeiros em maioria
a globalização do futebol não é de agora e reflecte-se cada vez mais no campeonato português. os estrangeiros voltam a estar em maioria (57%), apesar de os 178 portugueses, aliados a outros 28 europeus de 14 países, manterem o velho continente com a maior ‘quota de mercado’. juntos, perfazem 50% do total de jogadores na 1.ª liga, sendo que nenhum é italiano e apenas um é alemão (haas, do sp. braga) e outro inglês (obadeyi, do rio ave).

a américa é o segundo continente mais representado, com 158 futebolistas (38%), seguida de áfrica (11%), enquanto ásia (0,5%) e oceânia (0,2%) têm uma presença residual.

dos estados unidos saiu oguchi onyweu, que rumou ao málaga por empréstimo do sporting, e chegou tony taylor, avançado do estoril. nascido em long beach, na califórnia, há 23 anos, responde pelo nome verdadeiro de alejandro antonio taylor jr., fruto de ter as suas origens no panamá.

é preciso cruzar quase todo o globo para encontrar o australiano caleb, no extremo oposto. mas o guarda-redes do vitória de setúbal não nasceu assim tão longe do ponta-de-lança do estoril.

hendersonville é uma cidade do estado norte-americano do tennessee e foi ali que a mãe de caleb o deu à luz antes de emigrarem para o país dos cangurus.

a 1.ª liga de hoje não é mais do que um reflexo do mundo: as fronteiras estão esbatidas e o que antes parecia longínquo está agora a um passo. arturo álvarez, o médio do paços de ferreira que joga na selecção de el salvador, nasceu em houston, no texas norte-americano. desde fevereiro que anda pela capital do móvel.

*com hugo alegre

rui.antunes@sol.pt