Geopolítica da água: Colapso ou esperança?

Vivem-se tempos de protesto climático. Contra injustiças distributivas do capitalismo ou seu modo de vida?

A Comissão Europeia avisa Portugal. Ameaça para o Tribunal de Justiça. Incumprem-se planos de gestão das bacias hidrográficas e de riscos de inundações. A água é o ativo geopolítico português mais precioso. Conjunto de litorais marítimos, áreas fluviais, bacias hidrográficas, lençóis freáticos, nos estuários de cidades ou na delimitação de municípios. Preocupados, ouvimos o aviso. Com secas, incêndios, ondas de calor, inundações, abeirar-nos-emos de um colapso geopolítico da água?

A sua estabilidade para uso doméstico ou industrial, produção de energia, suporte alimentar agrícola e pesqueiro devia ser foco das politicas públicas. Cartografia, mapas de riscos, medição de reservas, incluindo algorítmicas, assegurariam o controlo e direção de fluxos aquíferos possibilitando segurança de populações e atividades económicas. Soberania significa controlar recursos estratégicos sobre domínios públicos, incluindo, captação da água e regular suas capacidades de carga e utilização.

97% da água do planeta está no mar. Quanto tempo nos resta para a dessalinizar para uso potável? 71% das superfícies do planeta são marítimas. Segundo o World Atlas, Portugal é o 20.º país do mundo em extensão marítima de zona económica exclusiva (ZEE). Com uma área de dois milhões de km2 e potencial extensão da sua plataforma continental, tem em mar 20 vezes a superfície politica terrestre.

Surpreenda-se. A França, com extensões no Pacífico, Nova Caledónia e Polinésia é o maior país marítimo do mundo. Com Portugal e Dinamarca ocupam a lista dos 20 primeiros. Consórcios e economias de escala a realizar em tecnologia, industria e energias renováveis off-shore no mar oceânico com estes países da União Europeia? O potencial da economia azul é incomensurável.

Portugal necessita de uma estratégia geopolítica de recursos naturais da água que providencie, com inteligência, incluindo diplomática, designadamente, a exploração eficiente do mar, combinando esse recurso fundamental com energias intermitentes (exemplos: sol, marés, ventos), reciclando usos (exemplos: água do mar potável, aguas residuais), reduzindo dependência energética e afirmando-se geopoliticamente no mundo.

Vivem-se tempos de protesto climático. Contra Injustiças distributivas do capitalismo ou seu modo de vida? Estarão os ativistas cientes do impacto físico dos telemóveis, digitalização e energias renováveis? E da brutal produção de energia para sua satisfação? De baterias elétricas e metais raros como componentes? Saberão como cinicamente o mundo ocidental exporta a sua poluição mineira para a China ou despeja o e-lixo em países pobres de África? Registe-se quando protestamos contra mais minas ou plataformas marítimas para exploração petrolífera.

A geopolítica é climática. A economia que melhor protege a Terra é a circular. Conhecermos o impacto poluidor do consumo e mitigá-lo com consumos moderados ou reciclagens sustentáveis. A geopolítica propõe um caminho: sociedades planeadas, organizadas e informadas no seu domínio público, explorando matérias-primas para produção de energias/produtos permitirão base sólida para bens públicos. Para defender direitos como habitação, saúde, justiça, educação, precisamos produção. Com o ativo fundamental da água ao seu serviço. Veja-se o Fundo Petrolífero da Noruega, pais marítimo e insuspeito em ambiente. Inspire-se para Portugal.

O mar, para prospeção de energia (petróleo, gás, metais raros) na ZEE e extensão da plataforma continental off-shore, para investigação da vida biológica e marinha e de recursos pesqueiros é um mundo necessitado de cartografia, planeamento, gestão de usos e mapa de riscos. Não é um filão ou um Eldorado. É um recurso geopolítico. Que a sociedade e o Estado português nele trabalhem afincadamente e com inteligência. Também artificial.

Professor UALG e Autor do Portugal Geopolitico