Gianni Di Gregorio: ‘Estudo os filmes de Woody Allen’ [com vídeo

Na sua segunda vez atrás das câmaras, Gianni Di Gregorio prova de novo que não é preciso muito dinheiro ou artifício para fazer uma comédia encantadora. Após uma carreira como actor de teatro, assistente de realização e guionista (colaborou em Gomorra de Matteo Garrone), destacou-se como realizador, aos 60 anos, com o bem sucedido e…

[sapovideo:mzflslkkqthhbtndj96l]

em gianni e as mulheres, o realizador volta a recriar, sem cheiro a mofo, o universo das velhas senhoras romanas, mas agora centrando-se na personagem que ele mesmo encarna: um reformado de 60 anos, benevolente e ocupadíssimo a satisfazer os caprichos de mulheres dos 19 aos 90 e à procura do seu próprio sex-appeal perdido. uma comédia de costumes – e registo do tempo que passa e da decadência física do outrora rico e burguês bairro do trastevere – mas onde, ao contrário do que se poderia imaginar, a velhice (sobretudo por causa das magníficas actrizes, em especial valeria de franciscis, no papel de mãe) não é desperdiçada, nem lamentada.

o seu filme anterior era muito pessoal, inspirado nos anos vividos com a sua mãe. o que há de autobiográfico neste?

há algum tempo que me dava conta de que a partir de uma certa idade as mulheres já não olham para nós. isso perturbou-me e decidi fazer este filme para desdramatizar. exorcisar, talvez. fiquei satisfeito com o filme, mas não sei se o exorcismo funcionará!

os actores são também não profissionais? como foi o processo de escolha?

há actores profissionais, como o advogado, alfonso santagata, a mulher, elisabetta piccolomini e a primeira apaixonada, valeria cavalli. e depois são não profissionais. não tenho preconceitos, mas muitas vezes os não profissionais têm uma grande espontaneidade.privilegio as pessoas que têm uma certa personalidade e não têm medo de estar à frente de uma câmara. depois digo-lhes para dizerem as deixas e moverem-se como quiserem. funciona e muitas vezes os diálogos são mais autênticos e emocionantes, superiores àqueles que tinha escrito no argumento.

almoço de 15 de agosto teve um orçamento de apenas 500 mil euros. após ter ganho tantos prémios, o orçamento terá sido maior…

sim, o orçamento foi superior, cerca de três vezes mais. porém, filmei em casas verdadeiras, não em estúdio. e fizemos também muitos exteriores. queríamos um filme que respirasse e que mostrasse roma com as suas cores quentes. filmámos sem filtros, só com luz natural…

há momentos em que parece ter sido influenciado por woody allen.

adoro o woody allen.todos os seus filmes me emocionam. gosto principalmente do zelig, que considero um dos vértices mais altos da cinematografia mundial. agradeço a comparação, mas não me sinto digno dela.. mas confesso que estudo os filmes do woody allen, procuro compreender o ritmo e a poesia. ele é para mim um ponto de referência.

por que só aos 60 anos fez um filme?

vivi mais de dez anos com a minha mãe, dos seus oitenta aos noventa anos, e conheci imensas amigas dela da sua idade. foi uma surpresa, um mundo de energia, de força, de vitalidade. queria falar desta grande vontade de viver misturada com sabedoria e ironia.

como é trabalhar com pessoas de idade tão avançada?

é muito belo. também elas me surpreendem pela sua energia. o set torna-se um jogo, um divertimento.

telma.miguel@sol.pt