Governador assume que ‘queria’ ter afastado Salgado mais cedo

Carlos Costa está hoje a ser inquirido pelos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo.

Querer e poder. São os dois verbos que caracterizam a intenção e a actuação do governador do Banco de Portugal no que se refere ao aval à permanência de Ricardo Salgado na gestão do BES.

Um dos assuntos mais debatidos na praça pública prende-se precisamente com as dúvidas sobre a idoneidade de Ricardo Salgado para permanecer na liderança do BES.

Outro dos temas quentes está relacionado com as denúncias feitas pelo empresário Pedro Queiroz Pereira sobre a situação do BES em Setembro de 2013. 

Estes temas não foram obviamente ignorados pelos deputados. Carlos Abreu Amorim do PSD quis saber se “existe complacência do Banco de Portugal” perante as acusações do empresário Pedro Queiroz Pereira. 

Já o deputado Pedro Nuno Santos questionou Carlos Costa sobre as razões impediram o Banco de Portugal de afastar o banqueiro Ricardo Salgado da presidência do BES.

O governador admitiu que há uma diferença “entre o dever e o poder”. “Se eu pudesse, faria”, garante Carlos Costa, admitindo assim que só não afastou Ricardo Salgado mais cedo por não estarem reunidas as condições para que tal acontecesse.

“Quando o poder não está garantido de forma cristalina, estamos no cálculo de probabilidades de eficácia tendo em conta a estabilidade financeira.”

No que se refere às denuncias do empresário Pedro Queiroz Pereira, o governador 
do Banco de Portugal diz que as cartas na posse da Comissão demonstram um “diálogo normal entre supervisor e supervisionado”.

“É um diálogo permanente, intenso e de grande dureza, que se realiza numa situação extrema, porque estamos a trabalhar com uma entidade com risco sistémico.” “Temos de saber se estamos no limite da pressão”, sendo certo que “não há opções infalíveis”, garante. 

O governador não tem dúvidas: “Se tivéssemos desfeito determinações poderia ser sinónimo de desistência, mas tal não aconteceu”.

Ao longo da audição, o governador do banco central português assume que “houve uma grave falha do modelo de governo”, ao mesmo tempo em que, repete, “não existem opções infalíveis”.

“Temos que tirar conclusões das práticas de governo e não é só em bancos”.
Recorde-se que esta é a primeira audição da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do GES.

sandra.a.simoes@sol.pt