Esta semana, pela terceira vez, o Parlamento grego não conseguiu eleger para Presidente o candidato apresentado pelo Governo, Stavros Dimas. Por imposição constitucional, a Assembleia foi dissolvida e foi marcada a data para as eleições, para as quais o Syriza aparece bem colocado. Há mais de um ano que o partido de Alexis Tsipras lidera as sondagens, perante receios na Europa de que o partido rompa os acordos de consolidação orçamental estabelecidos nos últimos anos com o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.
Depois de ser conhecida a decisão de marcar eleições, os juros da dívida grega a 10 anos chegaram perto de 10%. Para já, não há contágio à restante periferia europeia – os mercados estão a isolar Atenas. Os juros portugueses oscilaram um pouco no início da semana, mas atingiram depois os 2,4%, um mínimo histórico. Os de Espanha, Itália e Irlanda estão também baixos.
“Estamos a olhar para um problema grego – a crise do euro terminou”, disse o economista-chefe do banco Berenberg em Londres, citado pela Bloomberg.
Da Alemanha chegaram avisos dirigidos a Atenas. “Continuaremos a ajudar a Grécia a ajudar-se a si própria no seu caminho de reforma. Se adoptar outro caminho, será difícil”, afirmou o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble.
Reversão do memorando
Mas o que assusta os investidores e dirigentes europeus? O Syriza já abandonou a ideia de deixar o euro, mas mantém-se fiel à intenção de reestruturar a dívida e de “reverter as injustiças do memorando” assinado com o FMI e as autoridades europeias.
As palavras do economista-chefe do Syriza, John Milios, são elucidativas. Numa entrevista recente ao Guardian, o conselheiro do líder do Syriza assumiu: “Mais de 50% da dívida grega tem de ser anulada. […] A solução que foi dada à Alemanha na conferência de Londres em 1953 é o que devemos fazer pela Grécia”.
O rol de medidas que o partido tem vindo a defender é extenso, e muitas delas levariam a aumentos imediatos da despesa pública (ler caixa). Noutras declarações à Associated Press, Milios garantiu que um Governo do Syriza não iria aumentar o défice: “Consolidação orçamental? Claro, mas à nossa maneira, de uma forma que ponha o fardo naqueles que podem pagar”.