Guerreiros

Se o leitor quer ter um jardim, é favorável explorar as dificuldades que se aprontam à sua porta, e deixar que os seus medos sejam desconstruídos pela atitude corajosa de os defrontar de cabeça erguida.

por Miguel Dós

Disse um dia um pensador que é melhor ser um guerreiro num jardim, do que um jardineiro numa guerra. Nesta ideia jaz um princípio que explorarei para aportar ao leitor uma boa forma de lidar e pensar em relação à mudança.

A lógica por detrás da reflexão é a seguinte: o conflito é uma constante da vida na Terra e, por conseguinte, é preferível estarmos preparados e conscientes desse mesmo conflito do que desprevenidos e ignorantes. Durante o embate, o ignorante vitimiza-se, enquanto o guerreiro supera-se.

Ainda assim, como em tudo, ser guerreiro tem um preço: a zona de conforto. Quantas vezes o leitor não precisa de escolher caminhos nunca feitos para alcançar o fim pretendido!? O guerreiro, para estar em paz no seu jardim, precisou de fazer a guerra. Quero com isto dizer que, não só saber o que é a paz implica saber o que é a guerra, como é a preparação para a guerra e os desafios são (em muitas ocasiões) a razão pela qual é possível a paz.

Não julgo que a correlação referida seja razão suficiente para promover o conflito, mas motivo suficiente para abraçá-lo. É na dificuldade que se aguça o engenho, e que se obtém a confiança na adaptação à realidade em perpétua mutação.

Enquanto estudante universitário que fui, padeci de uma fase de elevada ansiedade. A mesma define um período difícil de uma parte muito significativa da minha geração, e que, no meu caso, foi a principal razão pela qual desenvolvi estratégias para gerir melhor fatores de stress, momentos de tensão, entre outros.

Guerreiro atravessa a dificuldade, enquanto o jardineiro foge dela. A ignorância oferece ao leitor, por um qualquer espaço de tempo, uma falsa sensação de tranquilidade, pelo não problema, nunca pela solução. Assim, a aparente realidade do jardineiro desaparece ao primeiro encontro com um fator externo. Como pode um jardineiro proteger o seu jardim da própria natureza, ou da ação de outros indivíduos!?

Julgo que possa fazer mais sentido ao leitor desenvolver o guerreiro que há em si, não virando costas ao conflito, do que o jardineiro. É sempre melhor possuir e ser, mesmo quando não se precisa, do que precisar e não ser. Um claro exemplo são as artes marciais: sabê-las e praticá-las requer sacrifício, são passíveis de serem usadas para proteção caso a vida assim o obrigue, mas esse conhecimento não faz do seu detentor escravo da sua aplicação diária. Um dia que o leitor tenha um azar, preferirá certamente poder defender-se a ser mais uma vítima da zona de conforto.

Um guerreiro no jardim não precisa de promover a guerra. Se o leitor quer ter um jardim, é favorável explorar as dificuldades que se aprontam à sua porta, e deixar que os seus medos sejam desconstruídos pela atitude corajosa de os defrontar de cabeça erguida.