Halloween

Perguntamos como aconteceramas coisas. Mas, quando uma resposta acontece, protestamos porque alguém falou demais

Andava eu preocupado em encontrar assunto para a minha escrita e, de repente, fez-se luz.

Na noite de hoje, uma parte do país tenta recuperar a tradição dos bolinhinhos, bolinhós e outra absorve, com loucura, a celebração do halloween.

Somos assim. Simples e abertos. Pedinchões e amantes das bruxas.

Em tudo, diria.

Claro que o orçamento do Estado também retrata a nossa natureza. Do mesmo modo.

De um lado, aqueles que pedem um novo contributo, uma nova regalia, uma nova isenção, ou um aumento, ou uma reposição.

Unidos nos seus grupos pedem doçuras, como hoje se diz.

A casa de onde tudo pode vir é o somatório das casas de todos, dos que têm para dar e dos que não têm, sendo certo que uns ficarão a assistir e outros a contribuir.

Rebuçados, chocolates, chupa-chupas e outras coisas que num instante se vão.

Outros recordam, num esforço porventura incompreendido, que seria melhor e mais conveniente dar mais saúde e mais transportes e mais justiça.

Uns acreditam que as bruxas voam nas vassouras para distribuir tudo e inventar o feitiço da riqueza.

Outros pretendem que elas realizem o impossível: menos impostos cobrados, mais utilidades a prazo.

No meio de tudo isto ficam aqueles que se divertem a contemplar os esforços de uns e de outros e dizem dar para tirar e usam os golpes de mágica para anunciar a despesa que cortam e aumentar a receita prevista.

Às doçuras respondem com travessuras e, assim, todos são felizes. Celebramos, em conjunto, o nosso atavismo e a nossa modernidade.

A realidade do pedir e a ilusão do dar.

Somos europeus com uma mão atrás e a outra à frente. Controlamos o défice e piscamos o olho à sorte.

O que pedimos nós no caso de Tancos? Pedimos que nos não tomem por parvos, pedimos a clarificação do caso mais estranho a que tivemos a sorte de assistir.

É um pedido simples, parece.

Sendo certo que perante os nossos olhos se revela um episódio rocambolesco no qual alguém tem a ideia peregrina de resolver de modo imaginoso alguma coisa de inadmissível e politicamente incómoda. Não apenas quem sabia mas quem o inventou.

E, apesar de não queremos crer nas bruxas, concluímos como os espanhóis que as há.
Outra vez a nossa dupla condição.
Num terceiro momento celebramos também com livros. Com um em especial.
Discutível, polémico, incómodo.
Ora, a verdade é que nos perguntamos como aconteceram as coisas e pedimos que nos esclareçam.
E, quando uma tentativa de resposta acontece, protestamos porque alguém falou demais.

Doçuras e travessuras são distribuídas outra vez por todos os intervenientes.

E chegamos à conclusão de não ser inelutável que as opções tomadas fossem aquelas e não outras. De ter havido discordância fundamentada. De terem sido propostos outros caminhos. 

Chegamos à conclusão de que o fundamentalismo inspirou os actos.

Percebemos como nos confundimos como os mais pobretes e os menos alegretes, como alguém interpretou o Blood, Sweat and Tears de Churchill como algo que se pudesse seguir sem um inimigo externo identificável e se reduzisse a um castigo masoquista.

Ou seja, de que o erro provocou a bruxaria.