Hepatite A. DGS reconhece maior risco de sexo em saunas, clubes e marcado em apps

Com um surto a afetar sobretudo homens que têm sexo com homens, DGS reúne-se com ativistas e vai centralizar distribuição da vacina num único centro de saúde em Lisboa

Ainda não é claro a dimensão que o surto de hepatite A poderá tomar na região de Lisboa nas próximas semanas. Continuam a ser notificados novos casos, dado que a doença demora um mês a manifestar-se após o contágio e só esta semana surgiu o alerta público. Hoje o balanço de pessoas infetadas com hepatite A subiu para 118, com a grande maioria dos casos a verificar-se em homens jovens, com uma idade média de 30 anos e a residir na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Para fazer face à escassez de vacinas, que permitem prevenir o contágio e quebrar a corrente de transmissão, a DGS vai reunir-se esta sexta-feira com as associações que dão apoio na área da saúde a homens que têm sexo com homens – o grupo em que se registam até ao momento o maior número de casos – para articular a melhor forma de resposta ao surto.
 
Diogo Medina, médico do GAT (Grupo de Ativistas em Tratamentos) revelou ao i que está em cima da mesa uma proposta para centralizar a disponibilização da vacina num único centro de saúde da cidade. As pessoas poderão deslocar-se a consultas médicas para obter receita, entre as quais as consultas no centro comunitário do GAT CheckpointLX, no Príncipe Real, em Lisboa. Outro serviço disponibilizado pelo GAT é a hipótese de alguém que tenha contraído o vírus da hepatite A notificar parceiros, sendo possível fazê-lo de forma anónima.

Normas revistas após audição da ILGA e do GAT 

Depois de, num primeiro momento, a DGS ter optado por não seguir as indicações do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças e defender a vacina apenas para pessoas que manifestassem sintomas e os seus contactos próximos, a orientação emitida sobre e hepatite A foi atualizada após a audição de representantes do GAT e da ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero).

A DGS reconhece na última versão do documento que estão em maior risco homens que fazem sexo com homens que tenham comportamentos como sexo anal (com ou sem preservativo), sexo oro-anal (estimulação do anus com a língua), sexo anónimo com múltiplos parceiros, homens que tenham relações em saunas e clubes ou através de encontros marcados em apps. 

Esta última versão da norma admite que os médicos assistentes, através de prescrição, podem recomendar a vacinação das pessoas nestas circunstâncias, que é o que o GAT começou a fazer na semana passada. Medina defende que só com esta generalização da vacinação a todos os homens que têm sexo com homens, e o reforço da sua sensibilização – e de mensagens como a importância de uma boa higiene, nomeadamente antes da atividade sexual, – será possível travar o surto que afeta 13 países europeus e que pode tornar-se transversal. Estando o vírus em circulação, pode ser contraído por qualquer pessoa que tenha relações sexuais anais ou oro-anais ou através do meio de transmissão mais usual antes deste surto: a ingestão de água e alimentos contaminados inadvertidamente. 

Se faz parte das pessoas em maior risco, deve procurar uma consulta médica.

Segundo a DGS, estão em maior risco de adquirir o vírus da hepatite A as pessoas não imunizadas, por vacinação ou infeção natural que: 

– Se desloquem para áreas endémicas (Ásia, África, América Central e do Sul); 

– Ingiram alimentos/água contaminados; 

– Homens que fazem sexo com homens (HSH) com um ou mais dos seguintes comportamentos:

Sexo anal (com ou sem preservativo);

Sexo oro-anal

Sexo anónimo com múltiplos parceiros

Sexo praticado em saunas e clubes, entre outros locais;

Encontros sexuais combinados através de aplicações tecnológicas (Apps).