Herdeira alemã não vê “nada de mal” no facto de a sua empresa ter recorrido a trabalhos forçados no regime nazi

A jovem sentiu-se obrigada e fez um volte-face: pediu desculpas e ainda evocou a responsabilidade da nova geração em recordar a História.

Sob fortes críticas por ter dito que a sua empresa "nada fez de mal" ao usar trabalhos forçados durante o regime nacional-socialista na Alemanha, Verena Bahlsen, de 25 anos e herdeira da Choco Leibniz, produtora de biscoitos, viu-se obrigada a pedir desculpas. Foi acusada de ser "ignorante" no que à História da Alemanha, mas principalmente ao período de governação de Adolf Hitler, diz respeito. 

"Foi um erro amplificar este debate com respostas mal pensadas", disse Verena em comunicado. "Nada podia estar mais longe do meu pensamento que menorizar o nacional-socialismo e as suas consequências", acrescentou. E, numa reviravolta ainda maior, Bahlsen sublinhou que "como próxima geração, temos a responsabilidade da nossa história". 

A empresa da qual é herdeira usou cerca de 200 pessoas condenadas a trabalhos forçados na produção de biscoitos, consumidos tanto pela população civil como pelos militares alemãs nas linhas da frente da II Guerra Mundial, entre 1943 e 1945, muitos dos quais eram mulheres provenientes da Ucrânia ocupada. 

Tudo começou quando Bahlsen se dirigia à plateia numa conferência de marketing. Quando tomou a palavra, a herdeira auto-elogiou-se pela fortuna conquistada pela sua família e mantida por si, ignorando o passado da empresa. "Sou uma capitalista. Sou dona de um quarto de Bahlsen [empresa alimentar] e isso é ótimo. Quero comprar um iate e coisas como essas", disse Bahlsen, com a plateia a aplaudi-la. 

No entanto, nas redes sociais a frustração não parou de crescer, com duras críticas contra a herdeira. Foram tantas que a herdeira foi questionada sobre as suas palavras e o passado da empresa numa entrevista ao jornal alemão Bild. "Isso foi antes do meu tempo e pagamos aos trabalhadores forçados exatamente tanto como aos trabalhadores alemães e tratamo-los a todos bem", respondeu Bahlsen, acrescentando que a empresa não tinha razões para se sentir culpada. 

Em vez de a polémica ser esquecida, a entrevista apenas a deu ainda mais fôlego. O Centro de Documentação do Trabalho Forçado Nazi, sediado em Berlim, na Alemanha, reagiu no Twitter afirmando que "há uma grande falha de conhecimento entre os membros da família Bahlsen". 

"Alguém que herda tanta riqueza também herda responsabilidade e não devia ser tão arrogante", disse o secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil.