Historiador acredita que III Guerra Mundial já começou

“O perigo de uma guerra tradicional existe e é cada vez maior, mas a guerra na nova forma, essa já começou”, diz António José Telo

O historiador António José Telo acredita que, de uma nova forma, a III Guerra Mundial já começou. O professor da Academia Militar estabelece “mais paralelos do que gostaria” entre o que se passa atualmente e o que se passou durante a I Guerra Mundial.

A crise das soberanias tradicionais, a alteração brusca de equilíbrios e a mudança das regras do jogo são alguns dos pontos semelhantes ao que iniciou o conflito em 1914. "Curiosamente há mais paralelos do que gostaria. Preferia que não houvesse tantos", disse o professor da Academia Militar em entrevista à Lusa.

"O perigo de uma guerra tradicional existe e é cada vez maior, mas a guerra na nova forma, essa já começou. Quando falamos numa terceira Guerra Mundial, estamos a pensar numa guerra clássica, num choque entre Estados, porque noutra aceção na minha opinião já começou. Um novo tipo de guerra mundial está a decorrer e a mudar rapidamente o mundo", reforça.

Um dos “aspetos visíveis” que, segundo o professor António José Telo, é semelhante ao pré-guerra é a forma como “o caos se propaga a várias sociedades”, assim como as dificuldades que têm tido em “manter as funções normais de soberania”. "O Brasil é o exemplo típico de um Estado que deixa de cumprir as suas funções tradicionais e passa a ser substituído por um caos que vem de baixo e cresce rapidamente. Mas o que está a acontecer com o Brasil aconteceu já com metade de África, com grande parte do Médio Oriente, com grande parte do continente asiático e está a avançar na Europa", exemplificou.

A descrença que se sente nas ideologias tradicionais é também um dos principais fatores que, segundo o historiador, pode levar á concretização de um novo conflito mundial. "Esta descrença é uma das causas que provoca a crise dos poderes soberanos. As pessoas deixaram de acreditar ou pelo menos tendem a deixar de acreditar na boa vontade dos políticos e dos Estados tradicionais", afirma lembrando que foi "o desfazer das soberanias que marcou o fim da Primeira Guerra".

"As soberanias tradicionais estão em crise, as situações de pré-caos ou de caos vão crescendo rapidamente", acrescentou. Também a corrida ao armamento é semelhante ao que aconteceu no pré-guerra. "Talvez os europeus não notem muito porque não correm aos armamentos, mas tudo à volta corre, a começar na Ásia, a continuar pelo Médio Oriente, Estados Unidos e Ibero-Americana."