E seria esta a versão que Marcello Caetano contaria de seguida ao país, triunfante mas porventura não muito confiante.
A atitude de pundonor militar do actual major-general Manuel Monge, ao assumir, com Casanova Ferreira, a participação no golpe frustrado quando podia ter ficado oculto, entrou nos anais da História. Mas ele próprio viria a afirmar, duas décadas depois: “Talvez tivesse feito mal. Se não me tivesse entregado, tinha acompanhado o 25 de Abril de perto e evitado muitos males”.
Silva Carvalho, o tenente que subcomandava a coluna a caminho de Lisboa, discordou do recuo às portas de Lisboa, garantindo ainda hoje: “Tínhamos tido tempo para entrar, tomar uma bica no Rossio e sair outra vez de Lisboa. E as unidades que nos fizessem frente passar-se-iam para o nosso lado”.
O capitão Salgueiro Maia, que não viu condições para participar no golpe, recebeu, em contrapartida, ordem do comandante para avançar com os carros de combate de Santarém até às Caldas. Ele diria um dia: “Se não era a favor, tinha de ser contra. Mas a coluna para as Caldas demorou algumas seis horas para fazer um percurso que se faz em menos de duas”.
No período entre a aventura falhada de 16 de Março e o golpe vitorioso de 25 de Abril, é voz corrente que Salgueiro Maia ter-se-á sentido muito desconfortável com os olhares – e porventura falas – em forma de crítica à sua não participação na intentona das Caldas. O fulgor e agressividade com que entrou em Lisboa a 25 de Abril e a forma como se dirigiu aos seus homens para os encorajar a aderir à revolução denotaram, segundo a mesma perspectiva, uma vontade de apagar indelevelmente qualquer suspeita de cobardia no 16 de Março.
