Horror às sanções internacionais

Penso que desta vez estamos excepcionalmente de acordo, a maioria dos jornais, comentadores e eu: uma das coisas melhores que aconteceu nos últimos tempos foi o acordo sobre a desnuclearização do Irão. E sinto-me bem por estar em desacordo com os únicos que não gostaram da iniciativa diplomática, os republicanos dos EUA e o governo…

Claro que certos sectores republicanos dos EUA e israelitas, bem como os híper conservadores iranianos, só vivem bem em tensão e guerra, detestando a paz. Recorde-se o assassinato de um dirigente israelita defensor da paz: Rabin. Logo seguida da eleição de um durão.

Entretanto, em Teerão, o ministro dos Estrangeiros, ao voltar das negociações, foi recebido como herói, com direito a passadeira encarnada no aeroporto. E o povo do Irão, sobretudo a Oposição, festejou o assunto ruidosamente, nas ruas.

Temos de reconhecer que o Ião, ou uma parte considerável do Irão oficial, mesmo subjugado aos khameneis que o subjugam, ao preocupar-se com as sanções e o seu reflexo na população, demonstra um cuidado democrático e de civilização que muitos outros preferem ignorar. Estou só a lembar-me agora de Cuba (onde também essa era parece felizmente ultrapassada), que preferiu sujeitar a população aos horrores das sanções, num calculismo de consolidação do Regime (ainda assim feita à força de polícias, incluindo as secretas, de censuras e de outras formas antidemocráticas).

Entretanto, curiosidade extraordinária, que leva a incluir agora na minha lista de políticos prescientes (e é de destacar, porque normalmente os políticos erram quase tanto as suas previsões como os economistas ditos tecnocratas): parece que Fidel, respondendo a Che Guevara logo a seguir à revolução cubana (finais da década de 50, princípios da de 60), teria dito que só admitia ser possível um acordo com os EUA quando este país viesse a ter um presidente preto e o Papa fosse latino-americano (ou argentino, como o interlocutor). Vi a notícia num jornal católico espanhol, depois de ela circular muito pela Internet. E esta, hem?! Fidel, o ditador, presciente.