Hortícolas portugueses menos comprados com a desconfiança dos consumidores

Os horticultores do Oeste, região com maior área de estufas de hortícolas, estão a confrontar-se com a descida dos preços devido à contaminação de legumes detectada na Alemanha e temem piores dias enquanto não for descoberta a origem do problema.

no leilão de hortícolas hoje de manhã no agrupamento de produtores hortorres, o tomate desceu de 0,50 para 0,25 euros em comparação com a semana anterior, afirmou à agência lusa o responsável josé luís rodrigues.

«os preços estão a decair todos os dias e os produtos não saem para exportação, porque o consumidor deixa de consumir porque tem medo», justificou, acrescentando que a hortorres tinha um contrato fechado para exportar hortícolas para abastecer uma cadeira de hipermercados na alemanha e «agora já não querem».

na central carmo e silvério, os preços também estão a descer, sobretudo do tomate, a principal produção nesta altura, em resultado do receio de comer legumes, referiu o produtor horácio carmo.

«o nosso principal concorrente é o tomate da holanda, país que não está a conseguir vender para a rússia e está a encher o mercado espanhol de produto e a fazer descer o nosso tomate», explicou.

para os horticultores, a retracção das exportações tem aumentado a oferta de hortícolas e contribuído para a descida dos preços no mercado nacional.

no mercado de torres vedras, os preços mantêm-se idênticos aos de há uma semana, tendo em conta que a maioria dos comerciantes recorre a hortícolas produzidos no concelho.

ainda assim, «nota-se uma quebra nos preços sobretudo do pepino», realçou ana bernardo, comerciante há mais de 20 anos.

também com mais prejuízo nas vendas, conceição diogo, comerciante há 10 anos, acrescentou que, apesar da retracção ao consumo, «as pessoas perguntam se o produto é nacional ou estrangeiro», preferindo o nacional «porque estão com medo».

torres vedras é o concelho com a maior área de estufas de hortícolas do país, cerca de 600 hectares, onde são cultivados produtos que asseguram as necessidades diárias de consumo da capital e que são exportados para vários mercados europeus, facturando por ano só nas exportações 800 milhões de euros.

um surto infeccioso da bactéria escherichia coli (e.coli) foi detectado na alemanha na semana passada, tendo entretanto provocado 18 mortos e afectado milhares de pessoas. morreram 17 pessoas na alemanha e uma na suécia.

apesar de as autoridades terem inicialmente atribuído o surto à contaminação de pepinos espanhóis, a origem da infecção continua desconhecida. a organização mundial da saúde (oms) anunciou hoje tratar-se de uma nova estirpe nunca antes detectada da bactéria.

entretanto, as primeiras análises realizadas pela autoridade de segurança alimentar e económica (asae) a pepinos espanhóis, retidos num armazém em portugal, para detectar a presença da bactéria e.coli, deram «negativo», disse hoje à lusa uma fonte do organismo.

a asae desencadeou, entre sexta e terça-feira, uma «operação de controlo» para verificar se havia à venda em portugal pepinos provenientes de espanha. esta acção foi realizada antes de a alemanha ter anunciado que, ao contrário do que se pensava, a origem do surto infeccioso com a bactéria escherichia coli (e.coli) não estava nos pepinos espanhóis.

lusa / sol