Hospitalização de Catherine Deneuve não deverá passar de um susto

A atriz sofreu um AVC durante as rodagens do seu mais recente filme mas, segundo os familiares, não ficou com “qualquer incapacidade motora”.

Excesso de trabalho, golpe de fadiga, uma agenda sobrecarregada. Foram estas as explicações elencadas pelos representantes de Catherine Deneuve, ontem internada em Paris. Aos 76 anos, a atriz francesa encontrava-se a filmar De son vivant, o novo filme da realizadora Emmanuelle Bercot. A notícia foi avançada pelo Le Parisien, que deu ainda conta que a atriz tinha sido hospitalizada “em estado grave”. Horas mais tarde, os familiares de Deneuve confirmaram à AFP que a atriz tinha sofrido um “acidente vascular isquêmico muito limitado”. “Felizmente não tem qualquer incapacidade motora e deve evidentemente descansar durante algum tempo”, afirmou a mesma fonte. À Variety, uma outra fonte refutou a gravidade da situação descrita pelo Le Parisien, afirmando que, apesar da hospitalização, o estado de saúde da atriz não era preocupante.

Deneuve estava a rodar o seu mais recente trabalho há três semanas. Ironicamente, sentiu-se mal durante as filmagens de uma cena num hospital de Gonesse, perto de Paris. A produção do filme foi, entretanto, suspensa.

Dos arquétipos ao #metoo Há mais de seis décadas que o cinema se tornou na casa de Deneuve. Os Chapéus de Chuva de Cherburgo (1964), de Jacques Demy, foi o seu primeiro grande sucesso. Belle du Jour (Luis Buñuel, 1967) e Repulsion (Roman Polanski, 1965) cristalizaram a imagem de sex symbol. Desde a década de sessenta nunca mais saiu da grande tela e, nesta viagem, trabalhou com alguns dos grandes nomes da indústria, que se juntam aos já citados, como François Truffaut, Lars von Trier, Agnès Varda ou Manoel de Oliveira.

Dona de uma beleza deslumbrante, a qual alimentou desde aqueles primeiros filmes muito enigmáticos doseado na medida certa, Deneuve tornou-se numa referência de sensualidade. Musa do cinema e das revistas, arquétipo da mulher ideal francesa, foi fotografada ao longo das décadas pelos grandes nomes da moda e, cada vez mais perto da barreira dos 80 anos, é ainda notada como um ícone de estilo – o estilo parisiense, sensual e comedido em igual media – cada vez que surge na passadeira vermelha. Musa de Yves Saint Laurent, foi durante anos a imagem do mais icónico perfume do mundo: o Chanel n.5.

Em tempos mais recentes, não se escondeu no reduto da imagem e fez ouvir a sua opinião – ainda que a mesma, expressada em contracorrente em pleno escândalo Weinstein, tenha sido duramente criticada. Ou seja: no início do ano passado, Deneuve envolveu-se num movimento que criticava o #metoo. Juntamente com outras 99 mulheres, assinou um artigo de opinião publicado no Le Monde que defendia que os homens deviam ser livres de importunar as mulheres. “A violação é um crime. Mas tentar seduzir alguém insistentemente ou de forma desajeitada não o é, nem o cavalheirismo é uma agressão machista”, apregoava o texto. O manifesto foi amplamente criticado, e Deneuve, que surgia como a grande cara da mensagem, veio a público reassegurar a sua opinião. “Nada no texto afirma que o assédio é bom, caso contrário, eu não teria assinado (…) “Sim, eu amo a liberdade. Não gosto desta característica do nosso tempo em que qualquer um se sente no direito de julgar, de arbitrar, de condenar. Um tempo em que uma simples denúncia nas redes sociais gera punição, demissão e por vezes leva ao linchamento mediático”