Imitação de Modelos

O tema de qual o modelo económico que Portugal deve adoptar surge em muitos debates.

A principal observação que gostava de fazer é a de que dificilmente Portugal conseguirá imitar suficientemente as instituições e os resultados de qualquer país que possamos escolher como exemplo. Por três razões, todas de uma natureza diferente. Em primeiro lugar, as nossas condições de partida serão sempre diferentes das desse país modelo. Em segundo lugar, na economia, tal como na vida empresarial, a mera imitação raramente produz os mesmos resultados (por exemplo, se imitássemos em Portugal uma certa empresa de sucesso alemã iria ter a mesma rentabilidade?). Finalmente, numa economia, qualquer processo de mudança de modelo produz resultados a escalas temporais relativamente longas, o que torna ainda mais incertos os resultados da mudança.

Isso não significa que não se deva estudar e aprender com os exemplos dos modelos económicos de outros países (por exemplo, na sua última edição, de 14 de Abril, a revista inglesa The Economist pergunta se merece a pena copiar o modelo económico alemão).

A mera imitação, porém, tem um grave defeito: é um substituto pobre da reflexão estratégica.

Os países em dificuldades devem encontrar um saudável equilíbrio que inclua o replicar de algumas instituições que produziram resultados noutros países, mesmo quando os mecanismos que justificam o sucesso não são plenamente compreendidos. Porém, deve-se também tentar explicar por que é que determinada mudança na direcção das instituições e regras de outros países poderá produzir bons resultados em termos de nível de vida ou sustentabilidade económica.

Em Portugal, o risco de sobreimitar não é irrelevante. Há uma forte dimensão de estrangeirados entre as nossas elites políticas e económicas, que naturalmente professam as virtudes dos países que admiram e das instituições que neles parecem funcionar. Há, assim, o risco de transformar os debates públicos sobre modelos económicos em meros elogios ou críticas aos países em causa.

Acresce que o momento de crise em que vivemos não favorece esse debate. Por um lado, o caderno de encargos que o país tem pela frente já é bastante pesado. Nem todas as mudanças a que estamos obrigados são igualmente importantes, mas muitas são de execução complexa e exigem alguma flexibilidade negocial para serem aceites e implementadas. Por isso, o nosso tempo é, em termos de políticas públicas, um tempo de execução e não o da escolha de um novo modelo de desenvolvimento económico.

Os nossos objectivos são relativamente simples e claros e terão de ser atingidos com qualquer modelo económico (incluindo o nosso português actual). Em primeiro lugar, uma ideia de sustentabilidade do Estado num contexto de envelhecimento demográfico. Em segundo lugar, uma ideia de competitividade assente em maiores níveis de comércio externo e exportações a custos suportáveis pelo mercado.

A minha convicção é que o nosso modelo económico, mais do que um modelo português, será um modelo europeu, isto é, um modelo em que as regras fundamentais de funcionamento da economia serão as ditadas pela evolução da própria União Europeia, que por sua vez terá de adaptar-se ao funcionamento da economia global.

Professor, Católica Lisbon-School of Business & Economics