Investigadores: a abertura de vagas na ciência é positiva, mas não resolve precariedade

Os investigadores que na sexta-feira divulgaram um documento a apelar ao investimento na ciência consideram positiva a anunciada abertura de 200 a 300 vagas para cientistas, mas salientam que isso não resolve a precariedade da classe.

a secretária de estado da ciência, leonor parreira, anunciou sábado à noite na figueira da foz que no próximo ano serão abertas 200 a 300 vagas para investigadores da fundação para a ciência e tecnologia (fct).

a governante adiantou que o ministério da educação e da ciência prevê abrir concursos anuais para investigadores fct, de modo a conseguir «manter no sistema científico e tecnológico 1.000 a 1.200 investigadores».

«claro que é uma boa notícia, mas eu penso que essas 200 ou 300 vagas só vão prolongar a situação dos investigadores de ciência dos últimos anos», considerou ana bastos, da comissão de bolseiros da faculdade de ciências da universidade de lisboa (fcul), que na sexta-feira divulgaram uma carta aberta ao ministro da educação a alertar para o atraso nos pagamentos aos bolseiros e a pedir medidas urgentes para uma situação que “pode inviabilizar” a produção científica.

ana bastos salientou que nos últimos anos foram abertas vagas para os chamados investigadores de ciência, que são contratos plurianuais, e que permitem alguma segurança aos investigadores.

«no entanto, não deixam de ser contratos temporários», destacou.

no documento que dirigiram na sexta-feira ao ministro da educação e ciência, intitulado “sem ciência não há futuro”, 116 bolseiros da fct e docentes universitários destacam atrasos no pagamento de vencimentos, na renovação de contratos de bolsas e no reembolso das prestações de seguro social voluntário daquela entidade.

os signatários pedem medidas para resolver estas questões, mas também uma política de incentivos para a criação de um mercado de trabalho que absorva esta mão de obra «altamente qualificada», por considerarem que a aposta na ciência é «uma das soluções mais eficazes para a saída da crise» económica.

na carta aberta é realçado que os bolseiros de investigação são jovens recém-licenciados, mas também investigadores «altamente experientes de pós doutoramento» e vivem com contratos de bolsa de três, seis ou 12 meses, «não progridem na carreira (que não existe), não têm direito a contrato de trabalho e os seus vencimentos não são actualizados há mais de 10 anos».

este grupo profissional «é a população mais qualificada de sempre e, por comparação, a mais precária», refere o documento, explicando que «nunca os licenciados e doutorados representaram uma percentagem tão elevada dos desempregados».

entre os promotores da carta aberta estão a comissão de bolseiros da faculdade de ciências da universidade de lisboa, a associação de bolseiros de investigação e ciência (abic), o núcleo de bolseiros da universidade de aveiro e os precários inflexíveis (pi).

lusa/sol