Irmãos: a melhor (e a pior) coisa do mundo

Lembro-me com carinho e emoção da primeira vez que os meus filhos conheceram os irmãos. Vinham entusiasmados, cheios de curiosidade, embora com alguma relutância, por vezes a correr, e ao verem-no, tão mais pequeno e inofensivo do que tinham imaginado, ficavam imóveis a observar. 

A descobrir cada pormenor: as mãos tão pequeninas e perfeitinhas já com minúsculas unhas, os pezinhos, o cabelo macio como as penas dos passarinhos, os esgares – ‘Está a rir para mim!’ –, os bocejos, os olhinhos tão bonzinhos, a mexer o corpo involuntariamente… É aí que começa. Ganharam um irmão e uma das relações mais especiais que irão ter ao longo da vida. 

O bebé é perfeito, é um amor. Mas o primeiro filho deixa de ser único e a atenção passa a ser partilhada. Já não é tão simples cativar os pais que agora têm de escolher para onde olhar, de quem rir, a quem abraçar, e começa a competição. Há filhos calmos que passam a irrequietos, outros irrequietos que ficam mais introspetivos, outros crescidos que ficam bebés. É tudo novo. Há um lugar cativo que parece estar prestes a deixar de o ser. É como o jogo das cadeiras, quando a música para, não há lugar para todos. Pelo menos na cabeça das crianças.

Quando o filho já não é único ou quando não lhe é roubado o lugar do mais novo da casa, a chegada de um irmão consegue ser vivida na sua plenitude. Sem ameaças. Sem festinhas que se transformam em arranhadelas, beijinhos em mordidelas, objetos que voam sempre na mesma direção. O bebé pode chorar, gritar, arranhar, cuspir, que será sempre perfeito. É bebé, não tem culpa, e ele é o irmão mais velho. Ganha uma missão, a de o proteger, mimar, fazer rir, impressionar e ensinar. Será o seu protegido e ele o seu herói.

Ano após ano vão crescendo juntos e se as idades forem próximas, a cumplicidade é enorme. Assistem a todas as conquistas uns dos outros: os primeiros sorrisos, as primeiras gargalhadas, a tão ansiada primeira refeição que até podem passar a ser eles a dar, o gatinhar, os primeiros passos, as primeiras palavras. Tudo é vivido com um enorme entusiasmo.

E mais tarde, ouvir o irmão mais velho a ler, mostrarem os desenhos que fizeram, jogar à bola, brincar com as bonecas, inventarem brincadeiras e músicas só deles… É fantástico! Mas claro que nem tudo é um mar de rosas. Crescer não é fácil, traz inseguranças, ciúmes, invejas, medos, e a competição e a rivalidade estão quase sempre lá. A maturidade para gerir emoções é muito pouca e passa-se do brincar à luta em segundos. É tentador fazer o outro chorar, mais ainda do que fazer rir. Quando os vejo em grandes festejos, já sei que daí a pouco um deles vai estar a chorar. E não falha.

Quando crescem, ou quando à noite vão dormir, longe dos pais, a intimidade aumenta e a relação é mais genuína, sem interferências. São relações únicas, que podem durar uma vida, ao contrário da que têm com os pais. A relação mais terna e verdadeira a que já assisti foi a da minha avó e da minha tia-avó. Viveram juntas quase um século e no fim da vida cuidavam uma da outra com um carinho tão intenso e genuíno, que me deixava sempre à beira das lágrimas.