JNcQUOI. Aquele ‘não sei bem o quê’ que está a mexer na Avenida da Liberdade

Nestes três pisos há de tudo: restaurante, bar, mercearia, cabine de dj, lojas de roupa, cantos com livros e vitrines com pastelaria francesa. O JNcQUOI instalou-se paredes meias com o Teatro Tivoli e tem experiências para todas as horas do dia

Decorem este número de porta: 182. Na dúvida, é deixar que a esquina assinalada com o letreiro “Teatro Tivoli” sirva de bússola. Afinal, é na entrada logo ao lado que se está a dar uma das maiores transformações a que a Avenida da Liberdade assistiu nos últimos tempos. E note–se que falamos de uma rua que serviu de casa mãe ao “Diário de Notícias”, do qual agora só restam as letras.

Ainda não passámos o hall que dá acesso ao restaurante e já se percebe o hype. “Peço desculpa, mas já está tudo cheio para almoço”. Mas aqui, esta resposta não significa ter que adiar a experiência. O grupo que não fez reserva é rapidamente encaminhado para o piso inferior onde, ao balcão, pode experimentar alguns dos pratos do menu de cima e ainda sair a ganhar. Aqui há espaço para algo mais leve, como uma salada de gambas, um petisco em forma de pica-pau, uma tábua de queijos ou enchidos e até mesmo um hot dog de lavagante. Mas, calma, neste balcão de cervejaria não faltam os clássicos. Se de um lado há quem se delicie com ostras do Algarve, do outro há quem termine a refeição com um prego do lombo.

“Pela afluência, já percebemos que o conceito de almoço e jantar não existe”, explica Maria Pimentel, responsável de marketing. “Servimos non-stop quase desde a hora de abertura até ao fecho”, o que nos dias mais alargados – sextas e sábados – corresponde a estarem de portas abertas desde as 10h às 2 da manhã.

O restaurante

Não foi por passarmos diretamente ao andar de baixo que saltamos a melhor parte.

Na sala concebida pelo arquiteto catalão Lázaro Rosa-Violán, os tetos altos e as janelas grandes foram aproveitadas para encher a sala de luz. E não se deixe influenciar pelo ar pouco amigável do esqueleto de dinossauro velociraptor feito à escala real e que serve de centro a um espaço rodeado de oitenta lugares sentados. Desta cozinha, tudo o que sai tem carimbo de segurança, ou pelo menos é isso que deixa transparecer a opção de ter fogões, fornos e panelas à vista de todos.

O chef António Bóia reinterpreta clássicos portugueses, mas também estrangeiros, até porque a ideia, explica Maria, “é dar tudo do melhor, independentemente de ser nacional ou não”. É por isso que, na carta, há a opção de viajar entre um ceviche para entrada, gaspacho como sopa, chuletón para prato principal e macaron para sobremesa. Ou pode manter-se dentro de fronteiras com uma canja de bacalhau para começar, plumas de porco ou tranche de garoupa para prato principal, rematando com uma sericaia, umas farófias ou um pudim abade de Priscos.

As doses, essas, correspondem ao que se espera de um restaurante habituado a servir o português, conhecido por ser amante de prato cheio.

Entre refeições

Mas nem só de comida vive o JNcQUOI, até porque este projeto do grupo Amorim Luxury (liderado por Paula Amorim, herdeira de um dos homens mais ricos do mundo e acionista principal da GALP) integra anteriores conceitos da marca. Falamos aqui da Fashion Clinic Man, que até agora ficava uns números abaixo na Avenida da Liberdade e que agora requer apenas a descida de um andar. Neste espaço onde ‘menina não entra’ – na verdade entra, mais que não seja para ajudar a decidir qual o melhor fato a comprar – há clássicos e tendências, fatos feitos à medida, perfumes, calçado e uma montra de charutos.

É ainda nesta sala de madeira escura que Maria faz questão de chamar a atenção: “Todo o conceito JNcQUOI é bastante masculino não acha?”.

De facto, basta juntar as peças – cervejaria com serviço ao balcão, decoração sóbria e uma loja dedicada exclusivamente ao público masculino – para chegar a essa conclusão. Assim sendo, são as senhoras que têm que deslocar-se até ao Tivoli Fórum para encontrar o mesmo conceito, mas em versão feminina. Mas vai valer a pena o esforço: dentro de pouco mais de um mês, a loja vai contar com um salão de chá da Ladurée.

E já que falamos naquela que é considerada uma das melhores marcas de macarons do mundo, nada como uma paragem na vitrine de pastelaria francesa, estrategicamente colocada à saída do “Delibar”. Ainda no bar, é possível comprar para levar quase tudo o que se prova ao balcão, desde os queijos aos vinhos, as trufas e os azeites. Na saída, pode optar por comer mil folhas de framboesa para sobremesa, ou levar uma caixinha de macarons para mais tarde.

Vizinhos do teatro Durante as obras, que duraram seis meses, aquilo que mais entristecia o grupo era ouvir que, de alguma forma, estariam a destruir o espaço que era do teatro Tivoli. “Pelo contrário”, explica Maria, “só o viemos valorizar”.

Os quatro milhões de euros investidos no JNcQuoi pretendem dar uma nova vida ao quarteirão onde se insere a sala de espetáculos, também ela a ser alvo de remodelações. “Além disso, é ver as pessoas que, ao virem cá almoçar, espreitam a programação do teatro ou, no final de uma peça, passam a ter aqui um espaço para vir comer qualquer coisa ou beber um copo e continuar a noite”, refere Maria Pimentel.

Isto porque, para o fim, deixámos o mais peculiar. Se Dj’s e pistas de dança já não trazem novidade, talvez dizer que este espaço fica na casa de banho chame a atenção. É isso mesmo, a mesa redonda de onde sai a música fica no centro de um círculo de WC’s. E nem se esqueceram de, à porta de cada compartimento, colocar uma prateleira criada especificamente para as mulheres poderem pousar casacos e copos de bebida enquanto esperam nas eternas filas femininas. Talvez seja aqui que o lado masculino do JNcQuoi dê o braço a torcer.