Kaliningrado. Mísseis balísticos russos no coração da Europa

Conferência de Segurança de Munique abre hoje com a questão em cima da mesa. Stoltenberg pediu transparência

“Porquê? Este é um território legítimo nosso, podemos fazer o que quisermos”, afirmou ontem  o líder da comissão de defesa da câmara baixa do parlamento russo, quando questionado sobre se a Rússia iria informar a Aliança Atlântica sobre a instalação de sistemas de mísseis Iskander em Kaliningrado, enclave russo entre a Polónia e a Lituânia.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, pedia na quarta-feira a Moscovo que fosse transparente no que diz respeito à instalação dos mísseis. O primeiro a denunciar a ação das autoridades russas foi o ministro da Defesa da Lituânia, Raimundas Karoblis, no passado dia 5.

O tema deverá estar na ordem do dia na Conferência de Segurança de Munique, que hoje começa. Para Wolfgang Ischinger, presidente da conferência desde 2008, em declarações ao site Sputnik, existe atualmente na Europa um desequilíbrio causado pelo facto de os países  “terem vindo a reduzir ativamente o seu armamento desde há muitos anos e a Rússia, pelo contrário, está a aumentá-lo”. Desde 2007, o investimento russo no seu arsenal subiu 200%, de acordo com um relatório da Conferência de Munique, citado pelo Sputnik.

A Aliança Atlântica tem atualmente 6800 pessoas a trabalhar em permanência quando, no final da Guerra Fria, tinha 22 mil efetivos. 

Os mísseis de curto alcance Iskander estão feitos para destruir alvos com extrema precisão (e a grande velocidade, podendo atingir uma velocidade de até seis vezes a do som) e nenhum país europeu tem neste momento sistemas antimíssil capazes de os travar, de acordo com o site Army Recognition.

No entanto, o receio demonstrado no dia 6 pela presidente lituana, Dalia Grybauskaité – “isto, mais uma vez, torna a situação ainda mais grave porque os Iskander em Kaliningrado representam um perigo para metade das capitais europeias” – foi rejeitado pelo Kremlin: “A Rússia nunca ameaçou ninguém e não está a ameaçar ninguém”, afirmou o porta-voz, Dmitry Peskov, citado pela Reuters.

“A instalação de uma arma ou outra, o destacamento de unidades militares e coisas do género em território russo é um assunto exclusivo da Federação Russa”, acrescentou Peskov.

Os mísseis estão à guarda da 152.a Brigada de Mísseis de Proteção em Chernyakhovsk, no enclave russo de 224 km2. Chernyakhovsk está a 267 km de Vilnius, capital da Lituânia; a 340 quilómetros de Varsóvia, capital da Polónia; a 330 de Riga, capital da Letónia; todas dentro do alcance de 500 km do Iskander.

“A Rússia afirmou há muitos anos que pretende mudar os Iskander de forma permanente para Kaliningrado”, afirmou Stoltenberg na quarta-feira. “Estão a investir em infraestruturas e a reforçar a sua presença militar em Kaliningrado”, acrescentou o secretário-geral da NATO. Stoltenberg disse que este é um dos exemplos que mostram a utilidade do conselho NATO-Rússia.

A Aliança Atlântica, que decidiu em novembro aumentar os seus quartéis-generais de sete para nove, vai instalar um novo quartel na Alemanha destinado a estar mais atento às movimentações da Rússia. O novo centro de planeamento e controlo deverá ser instalado próximo de Bona, a antiga capital alemã.

Esta não é a primeira vez que Stoltenberg pede mais transparência ao governo russo em relação a questões de defesa. Em agosto do ano passado, o secretário-geral da NATO utilizava a mesma palavra em relação aos exercícios militares da Rússia na Bielorrússia. “Todas as nações têm o direito de exercitar as suas forças, mas as nações também devem respeitar os seus compromissos com a transparência”, disse.

A Rússia sempre disse que pretendia instalar os mísseis Iskander em Kaliningrado em resposta ao sistema de mísseis que os Estados Unidos estão a desenvolver na Europa de leste. Washington diz que servem  como escudo antimíssil contra um eventual ataque do Irão; Moscovo é da opinião que visam apenas a Rússia.