Kuwait. A invasão que incendiou o Médio Oriente faz 25 anos

A 2 de agosto de 1990, faz domingo 25 anos, o mundo acordou com a notícia da invasão iraquiana do vizinho Kuwait, um estado pequeno em tamanho, mas rico em petróleo e, consequentemente, importante para as ambições do então líder iraquiano Saddam Hussein.

Depois de invadido em 2003 por uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos que depôs o ditador, hoje é o Iraque que se transformou num campo de batalha de violência sectária e ataques dos extremistas islâmicos.

Os efeitos da invasão do Kuwait, momento descrito como o pior erro do então ditador iraquiano, perduraram ao longo dos anos seguintes e marcaram os dois países.

"Foi uma das piores decisões que Saddam tomou", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Iraque, Hoshyar Zebari, em declarações à agência francesa AFP em agosto de 2010, por ocasião do 20.º aniversário da invasão.

Sanções internacionais, perdas humanas e muitos milhões de dólares canalizados para um fundo de reparações estabelecido pela ONU em 1994 foram alguns dos aspetos da pesada herança iraquiana deste conflito, mediatizado mundialmente como a Primeira Guerra do Golfo.

"Realmente, o Iraque tem sofrido por causa dessa decisão desde então. Durante os últimos sete anos, tenho lutado para recolocar o meu país no lugar onde estava antes de 02 de agosto", disse Hoshyar Zebari, na mesma ocasião.

Em agosto de 1990, o Iraque detinha o quarto maior exército do mundo e mobilizou uma força invasora esmagadora. Em um dia, mais de 100 mil soldados iraquianos apoiados por tanques, helicópteros e camiões atravessaram a fronteira e tomaram a Cidade do Kuwait.

Bagdad justificou a invasão do emirado do Golfo Pérsico, alegando roubo de petróleo num campo petrolífero fronteiriço e razões territoriais históricas.

As forças iraquianas estabeleceram um governo provisório e Saddam Hussein ameaçou transformar o Kuwait num “cemitério” caso qualquer outro país desafiasse, pela força, a conquista de Bagdad.

A invasão e a anexação do Kuwait provocaram forte condenação internacional.

Numa sessão de emergência, o Conselho de Segurança das Nações Unidas pede a retirada “imediata e incondicional” das forças iraquianas e impõe sanções contra o Iraque.

A ainda primeira-ministra britânica, a “Dama de ferro” Margaret Thatcher, afirma que a invasão é “absolutamente inaceitável”, enquanto o Presidente norte-americano, o republicano George H. W. Bush, qualifica o ataque como “um ato de agressão sem defesa”.

Em novembro de 1990, e após esforços diplomáticos, as Nações Unidas abrem o caminho para o confronto, autorizando o recurso à força para retirar as forças iraquianas do emirado.

Na mesma altura, é dado um ultimato a Saddam Hussein: tem de sair do Kuwait até 15 de janeiro de 1991.

Durante os três meses seguintes, forças aliadas são destacadas para a região no âmbito da Operação Escudo do Deserto (Desert Shield). A União Soviética, principal fornecedor de armas do Iraque, declara que não vai participar na ação militar, mas suspende a entrega de todos os equipamentos militares.

Dias antes de terminar o ultimato, a 12 de janeiro, o Congresso norte-americano autoriza o uso da força militar contra o Iraque. Na noite de 16 de janeiro, é lançada a Operação Tempestade no Deserto.

Nas horas seguintes, as forças de uma coligação de 34 países (lideradas pelos EUA e Reino Unido) enviam centenas de aviões para bombardear posições no Iraque, naquele que seria o ataque aéreo mais longo na história da guerra aérea.

As bombas atingem alvos militares e estratégicos, incluindo refinarias petrolíferas e o aeroporto de Bagdad.

Na capital iraquiana, Saddam Hussein mantém uma posição desafiadora e afirma que “a mãe de todas as batalhas tinha começado”. Em reação às manobras internacionais, Bagdad lança mísseis Scud contra Israel e a Arábia Saudita.

Após mais de um mês de intensos ataques aéreos, os aliados lançam a ofensiva terrestre a 24 de fevereiro.

Os combates prosseguem até aos últimos dias de fevereiro, altura em que o Iraque, já com uma capacidade militar fortemente enfraquecida, concorda com um cessar-fogo.

Só em 1994, o Iraque reconhece oficialmente a independência do Kuwait e as novas fronteiras estabelecidas pela ONU.

Apesar da era Saddam Hussein ter passado à História – o ditador seria capturado por soldados norte-americanos em dezembro de 2003 e condenado e executado pela justiça iraquiana em dezembro de 2006 -, o impacto da invasão que durou seis meses permaneceu ao longo dos anos na cabeça dos kuwaitianos, bem como teve repercussões económicas para o emirado petrolífero

“O Kuwait ficou, naturalmente, traumatizado com a invasão de 1990”, afirmou Joost Hiltermann, do International Crisis Group, organização internacional que monitoriza conflitos armados em todo o mundo, em declarações ao canal norte-americano CNN em janeiro de 2011.

“Ainda tem de superar o medo de que o Iraque quererá mostrar que o Kuwait é a província 19.ª, em vez de um estado vizinho independente”, disse então o analista.

Antes da retirada, as forças iraquianas incendiaram mais de 700 poços petrolíferos no emirado, provocando uma catástrofe ambiental e económica. O fogo demorou oito meses a ser extinto. Mais de mil milhões de barris foram destruídos.

Atualmente, os dois países enfrentam uma ameaça comum: o extremismo islâmico.

Em junho passado, um atentado reivindicado pelo grupo autoproclamado Estado Islâmico (EI) contra uma mesquita xiita na capital do Kuwait, no final da oração do meio-dia de sexta-feira (dia sagrado para os muçulmanos), fez 27 vítimas mortais e feriu mais de 200 pessoas.

Esta semana, o Ministério do Interior do Kuwait anunciou o desmantelamento de uma célula do grupo ‘jihadista’.

O Iraque, que se tornou num campo de batalha entre as várias forças sectárias do país após o derrube do regime de Saddam Hussein liderado pelos EUA em 2003, é atualmente um dos principais palcos da ofensiva ‘jihadista’.

Desde junho de 2014, o Iraque enfrenta uma guerra contra o EI, que tem conquistado amplas zonas do território e proclamou um califado no país e na vizinha Síria.

Lusa / SOL