Labour: Angela Eagle candidata-se contra Corbyn

A primeira deputada que assumiu ser lésbica no Reino Unido é a candidata dos que querem derrubar o líder trabalhista.

Angela Eagle, a deputada que se demitiu do governo-sombra de Jeremy Corbyn, anuncia hoje a sua candidatura à liderança do Partido Trabalhista, segundo avança a BBC.

Corbyn resistiu a todos os apelos para que se demitisse, vindos praticamente de todo o lado. A solução para resolver a guerra civil no Labour passará por novas eleições internas, nas quais Corbyn já anunciou que se recandidatará.

Angela Eagle, 55 anos, trabalhou com o ex-líder Gordon Brown no tempo em que o Brown foi chanceler do Tesouro dos governos Blair. Eagle foi a primeira mulher deputada na Câmara dos Comuns a sair do “armário” e assumir publicamente que é lésbica. É casada desde 2008 com Maria Exall. Tem uma irmã gémea, Maria Eagle, que também foi deputada do Partido Trabalhista na Câmara dos Comuns. Também nunca tinha acontecido duas gémeas serem deputadas no parlamento britânico.

Conhecida por ser uma das deputadas trabalhistas mais combativas, Eagle foi protagonista de um episódio com David Cameron que valeu ao primeiro-ministro violentas acusações de sexismo. Irritado com as perguntas da deputada, Cameron respondeu-lhe: “Acalma-te querida”.

Tom Watson, o vice-líder de Corbyn que também se demitiu, era a outra hipótese. Mas Eagle e Watson combinaram entre si que só um deles se candidataria contra Corbyn.

Tom Watson disse ontem que insistiu muito para que Jeremy Corbyn se demitisse, mas que o líder trabalhista não quis discutir o assunto com ele. Em declarações à BBC, Watson afirma que  Corbyn foi aconselhado pelos seus apoiantes mais próximos a resistir até ao fim.

A guerra civil está instalada no Partido Trabalhista. O “exército” de Jeremy Corbyn soma sucessivas baixas nesta guerra de nervos.

Ontem, foi a vez do ex-chefe do Labour, Ed Milliband (que perdeu as últimas legislativas para  Cameron) vir defender a demissão de Jeremy Corbyn.

“No Partido Trabalhista temos que pensar no  país. Apoiei Jeremy Corbyn desde o momento em que foi eleito. Era a coisa certa a fazer”. Mas agora Milliband chegou “relutantemente à conclusão” de que a posição de Corbyn “é insustentável”. Em declarações à BBC, o antigo líder trabalhista diz que continua a pensar que tudo o que Corbyn defende é muito importante para que o partido avance. Mas até para aquele que era considerado o mais esquerdista dos líderes trabalhistas até aparecer Corbyn, a “festa” acabou.

Faltam apoios a Jeremy Corbn, mas não lhe falta fibra. Sozinho, isoladíssimo na Câmara dos Comuns, enfrentou ontem com energia o primeiro-ministro David Cameron, no primeiro debate pós-Brexit.

Em resposta a Jeremy Corbyn, David Cameron perdeu a sua fleuma do Eton College, ao ponto de ter decidido intervir na guerra civil trabalhista em curso utilizando uma linguagem mais ao estilo de Camden Town: “Pelo amor de Deus, vá-se embora, homem!”, disse Cameron na Câmara dos Comuns em resposta à artilharia política do líder trabalhista.

Quem também abandonou Corbyn foi o economista-estrela do momento, Thomas Piketty, autor do best-seller “O Capital no Século XXI”.

Em declarações à Sky News, Piketty, que Corbyn tinha convidado para fazer parte de um grupo de conselheiros económicos, afirmou estar “profundamente preocupado com o Brexit e com a muito fraca campanha em favor da permanência levada a cabo pelo Labour”. 

Antes de Piketty, outro dos conselheiros económicos de Corbyn tinha-se demitido. David Blanchflower acusou o líder trabalhista de estar a fazer “jogos idiotas”. Stiglitz, que também faz parte do grupo de conselheiros económicos, não se pronunciou.

Um linchamento sem corda Sobra um amigo a Jeremy Corbyn: John Mc Donnell, o ministro das finanças do seu governo sombra. Numa manifestação em apoio do líder trabalhistas, que juntou algumas centenas de pessoas em Londres, John Mc Donnell afirmou que a reunião do grupo parlamentar trabalhista foi uma espécie de “linchamento sem corda”. “Cada deputado, um atrás do outro, insistiu para que Jeremy se demitisse com o argumento de que não ganharíamos nenhuma eleição com ele na liderança. A ironia é que estávamos a falar com o vencedor da eleição intercalar de Tooting [circunscrição eleitoral na Grande Londres] que duplicou a sua maioria”. Para o melhor amigo de Corbyn, “o referendo foi utilizado para montar um golpe. O que está a acontecer é um golpe ‘very british’. Mc Donnel utilizou a ironia para defender Corbyn: “Tenho tentado explicar a alguns membros do grupo parlamentar do Partido Trabalhista que há uma invenção grega, extremamente recente, chamada democracia. Isto é uma batalha pela democracia”.