Lagarta-do-pinheiro. A inimiga das crianças e dos animais está de volta

Sai das árvores para o solo entre janeiro e abril. O contacto com a pele vale uma ida ao hospital e os mais vulneráveis são as crianças e os animais. Saiba mais sobre esta ameaça

Os relatos têm surgido um pouco por todo o país. A lagarta-do-pinheiro – também conhecida como processionária – iniciou a migração habitual e os seus estragos já começaram a ser notícia.

Em Lisboa, por exemplo, na última semana de janeiro, 18 crianças foram encaminhadas para o Hospital de Santa Maria para receberem tratamento depois de terem estado em contacto com o inseto na Escola Básica do Bairro de São Miguel, em Alvalade. Mais a norte, em Braga, os populares dizem-se apreensivos com a praga junto ao centro comercial Braga Parque e levam as suas preocupações para as redes sociais, em fotografias e vídeos. Jardins e escolas são os locais onde há mais relatos de avistamentos.

Ao i, João Branco, o presidente da Quercus, explica que “é normal que estes episódios estejam a acontecer, uma vez que não há uma data certa para que as lagartas saiam do ninho”. O responsável esclarece que a “saída das lagartas-dos-pinheiros está dependente da temperatura, e isso varia com os anos”. Outro elemento da equação é a fragilidade das plantas. “Nos anos de maior seca, as plantas ficam mais frágeis e mais suscetíveis a esta praga. De um modo geral, é normal que em anos mais secos – por causa da debilidade das plantas – a intensidade dos ataques seja maior.”

Prevenir para evitar O nome não é por acaso: as chamadas processionárias são assim conhecidas porque se movem em longas filas, umas atrás das outras, das árvores para o solo. É entre janeiro e abril que ocorrem as “procissões” e manda a natureza que assim seja para que as lagartas possam completar a sua metamorfose – enquanto estão debaixo da terra transformam-se em crisálidas, para depois passarem a borboletas. 

A prevenção do contacto entre humanos e esta lagarta, explica João Branco, passa pela remoção dos ninhos, especialmente em espaços públicos onde um ataque seja iminente, como escolas ou jardins. A par disso, o responsável da Quercus nota que as plantações de pinheiro devem idealmente ser feitas “em locais onde a espécie está mais bem adaptada, visto que os grandes ataques da processionária acontecem em locais de má adaptação da espécie”.

E atenção: como alerta o presidente, apesar do nome, esta lagarta não ataca só pinheiros. “Ataca também outras resinosas”, avisa.

Reações Quando entra em contacto com a pele, a lagarta liberta pequenos pelos que provocam reações alérgicas. Entre as mais frequentes, assinala o dermatologista Osvaldo Correia, diretor clínico do Centro de Dermatologia Epidermis do Instituto CUF (Porto), verifica-se “prurido, manchas vermelhas ou urticária”.

Outros sinais, menos frequentes, podem passar por “sintomas de conjuntivite e, mais raramente, sintomas respiratórios”.

O dermatologista aconselha a que não se removam lagartas com os dedos sem proteção: devem ser retiradas com uma pinça. E mais: “Se estiverem em contacto com roupa, deve ser lavada a temperaturas elevadas para que não haja pelos contaminantes”, alerta o médico.

Os animais Para além das crianças, os animais são os principais visados pelos ataques das temidas processionárias. E neste caso há que redobrar a atenção, porque as consequências podem ser fatais.

“Deve evitar-se que os animais andem junto de pinheiros”, diz Andreia Sebastião, médica no Hospital Veterinário de São Bento, em Lisboa. Até porque “pode haver reação em qualquer parte do corpo”, avisa.

No caso dos animais, “o preocupante mesmo é a ingestão ou o contacto com a língua. Pode obstruir as vias aéreas e provocar necrose na língua”. Com a obstrução das vias aéreas, há perigo de asfixia. Na internet circulam várias imagens de cães afetados. No fim de semana, uma internauta partilhou informação sobre o avistamento da lagarta no Parque da Bela Vista, em Lisboa.

As reações manifestam-se quase de imediato. Como não é possível estar sempre a controlar os amigos de quatro patas, a médica aconselha quem tem animais de estimação a estar atento aos sinais. “Se houver inchaço, devem levá-los ao hospital”, afirma. Até porque, continua, “a reação à picada provoca-lhes dor.”

Andreia Sebastião acrescenta que os cães são mais vulneráveis do que os gatos. “Os gatos não têm tanto a tendência de ir lamber e de andar com o nariz no chão”, diz. Já os cães “andam sempre a farejar e correm o perigo de contactar com a lagarta mais diretamente com a boca”. O problema, nestes casos, é que a língua não está tão visível como outras partes do corpo e os donos podem não se aperceber do estado do cão tão depressa quanto seria desejável.
Ainda assim, até agora, este ano só um animal deu entrada no hospital com sinais de contacto com a lagarta, conta a veterinária. E não foi um cão. “Recebemos um gatinho. Os donos não se aperceberam do contacto com a lagarta e trouxeram-no à urgência porque tinha a pata muito inchada.”