Lecce. O clube do elevador parou no primeiro andar

Está de volta à Série A um dos clubes mais sofridos da história do futebol italiano.

Lecce: cidade antiga como a noite dos tempos, fundada há mais de 2000 anos pelos Messápios, uma tribo antiga que habitava a zona da Apúlia, está em festa por causa do futebol, esse tão habitual motivos de festas e festarolas. Antonio Baroni, que foi durante algumas épocas defesa-central do clube de Lecce foi o treinador certo: a Unione Sportiva Lecce, regressou à Série A do Calcio, depois de vários anos de sofrimento e de vergonha que incluíram a infame descida administrativa à Série C, em 2012, pelo envolvimento no escândalo do Scommessopoli, um caso de resultados combinados entre vários clubes italianos, algo que, infelizmente, não é pouco vulgar no Calcio.

Se Lecce é uma cidade antiga, o Lecce também é um clube com raízes profundas, fundado em 1908 com o nome de Sporting Club Lecce, uma altura complicada da história da Europa que caminhava a passos largos para a I Grande Guerra, conflito que arrastou para as trincheiras muitos jovens jogadores que viram as suas carreiras decepadas. Vieram, em seguida, felizmente, tempos de alegria. Na época de 1922-23, o Lecce tem a sua primeira experiência no seio das grandes equipas italianas. Mas, quando no mês de novembro de 1922, inicia a sua maravilhosa aventura, o cenário político do país mudara por completo e o fascismo instalara-se na Itália. O Lecce também sofreu os custos da instabilidade naconal. Cinco anos depois, por força de uma política desportiva que forçou ao desaparecimento de muitos clubes regionais (a ideia de Mussolini sempre foi a de ter dois clubes por cidade para incentivar as rivalidades, mesmo que muitos desses clubes tenham nascido de fusões espúrias), o Lecce junta-se à FBC Juventus e ao Gladiator, seus vizinhos, para ganhar um novo nome: Unione Sportiva Lecce. Não tardará, após uma campanha vitoriosa que o fez instalar-se na Série B, em trocar também de equipamento: ao sensaborão branco e preto às riscas sucedeu um muito (talvez demais) vistoso amarelo e vermelho, também às riscas verticais.

De novo a guerra, desta vez a II. E de novo um rombo tremendo nas ambições de crescimento do clube de Lecce. Demorou a recompôr-se. Voltou a mudar de nome, agora para Pro Lecce, chegou a ter a sua secção de futebol suspensa, regressaria com o sonho de travar o sobe e desce entre as Séries B e C e afirmar-se na II divisão durante o tempo que fosse possível para, finalmente, tentar o regresso à Série A, pela qual a passagem fora tão saborosa quanto breve. Em vez disso, adveio uma crise económica que atirou o Lecce para a quarta divisão do Calcio. Era preciso recomeçar tudo de novo. 

Um homem importante! No final dos anos-50, surgiu no clube um homem de grande importância. Não era dirigente nem treinador e muito menos jogador. Chamava-se Eliano Tana e revolucionou a preparação física de jogadores que eram, ao tempo, completamente amadores. Em 1961, a subida à Série A é frustrada na última jornada, a favor do Foggia. De novo entregue a uma crise administrativa e desportiva, o Lecce tomba a pique. Todos os anos, a equipa é renovada de cima a baixo mas sempre para pior. A Série C volta a ser a sua morada. Apesar do aparecimento de jogadores de qualidade como Franco Causio, Mario Russo, Antonio Donadei e Aldo Sensibile, nada muda. 

Finalmente, na época de 1975-76, Lecce regressa à Série A. Foi-se aguentando. Mas houve sempre uma sombra de tragédia a pairar sobre o clube. No dia 2 de dezembro de 1983, dois dos jogadores mais marcantes da história do Lecce, Ciro Pezzella e Michele Lorusso (sobretudo este, menino bonito dos tifosi), perdem a vida num acidente de viação. O ceticismo volta a invadir a cidade. A equipa do elevador continua a carregar nos botões da subida e da descida, apesar de ver jogadores como Boniek, Antonio Conte e Mazinho vestirem a camisola vermelha e amarela. Este mês, terminando a Série B em primeiro, com dois pontos de avanço sobre o Cremonese, o Lecce volta a sonhar.