‘Limitação pode prejudicar muito a contratação’

O presidente do Instituto Português de Corporate Governance, Pedro Rebelo de Sousa, que aborda as questões relacionadas com a governação nas empresas, defende que os salários dos gestores deviam estar indexados aos resultados obtidos e que as contratações para o sector público deveriam ser validadas por uma entidade independente. As novas regras dificultarão a contratação…

a limitação dos salários dos gestores públicos pode dificultar a contratação de pessoas para o estado?
claro que sim, pode prejudicar, e muito. os efeitos são uma gestão medíocre, que por sua vezes gera resultados medíocres e vice-versa.

então acredita que esta decisão possa afectar os resultados obtidos…
obviamente. porém, haverá que ter em conta que muitas empresas de serviço público não podem ser rentáveis pela própria natureza do mercado em que se inserem e do serviço que prestam, pelo que, nesses casos, um bom resultado será alcançar défices baixos.

ainda há gestores dispostos a abdicar de parte da remuneração pela ‘missão’ de cumprir serviço público?
acredito que esses casos serão, naturalmente, a excepção.

a não distribuição de prémios às administrações também criará dificuldades para atrair gestores qualificados?
naturalmente que esse é um parâmetro que prejudicará ainda mais a contratação de gestores qualificados.

como qualifica a formação de gestores em portugal?
diria que nas gerações dos 40/50 anos a formação está ao nível dos internacionais. contudo, temos em portugal pessoas portadoras de mba’s (master of business administration – formação por excelência para os futuros gestores de empresas) de classe internacional em todas as gerações.

que medidas adicionais podem ser tomadas para aumentar a qualidade na contratação de gestores públicos?
há dois aspectos fundamentais. por um lado, é essencial indexar a compensação salarial ao desempenho obtido pelos gestores. por outro, tal como acontece no reino unido, a validação do processo de contratação deve ser feita por uma entidade independente.

o governo pretende excluir da limitação salarial os sectores concorrenciais. será fácil efectuar esta separação?
creio que, com algum bom senso – e face à onda de reprivatizações –, é possível efectuar essa separação, mas em alguns casos tal não será possível. e há o risco de serem mais as administrações abrangidas pela regra de excepção do que as empresas que sofrerão limitações nos salários.

frederico.pinheiro@sol.pt