Lorde, a adolescente mais influente do ano

Contra todas as expectativas, a neozelandesa Lorde conquistou o título de adolescente mais influente do ano, atribuído pela revista Time. Aos 17 anos, a cantora está há mais de 19 semanas no topo da tabela de vendas americana e apresenta-se como a antítese da celebridade excessiva e hipersexual.

quando tinha 12 anos, ella yelich-o’connor participou num concurso de talentos organizado pela escola e cantou um tema de duffy. sem que a jovem percebesse exactamente como, a actuação, gravada pelo pai de uma amiga, foi parar às mãos da universal, que quis de imediato conhecê-la. aos 13, yelich-o’connor tinha um contrato assinado com a editora e um projecto desenhado para si: a gravação de um disco de versões soul.

esta podia ser uma história semelhante à de outros talentos juvenis que conheceram o sucesso com tenra idade – como justin bieber, miley cyrus ou britney spears –, mas não é por causa da sua protagonista. quando lhe propuseram que editasse um disco de covers, a jovem natural de davenport – um subúrbio de auckland, que a própria descreve como sendo uma bolha insular separada de tudo o resto – recusou, dizendo que queria ser ela a compor as suas canções.

apesar de nunca ter escrito uma canção antes, a universal acedeu, mas chamou o produtor joe little para a orientar. à medida que foi tomando consciência do talento que tinha em mãos, joe little decidiu trabalhar sem pressas, deixando a voz, as referências e a própria personalidade de yelich-o’connor amadurecerem. no ano passado, já depois de ter adoptado o nome artístico lorde, criou uma página no soundcloud e partilhou as primeiras músicas. ao contrário dos desejos da sua editora, não quis nenhum tipo de promoção. “deixem-na crescer organicamente”, disse joe little à universal. e assim foi.

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nascida na era pós-internet e consciente do sucesso viral que se consegue atingir quando a comunidade virtual é conquistada – basta pensar em lana del rey, a quem tem sido comparada –, a popularidade de lorde começou a crescer quando a cantora canadiana grimes (com uma base sólida de fãs na blogoesfera) falou da neozelandesa no twitter. aos poucos, o número de seguidores no soundcloud tornou-se expressivo e, há quatro meses, quando lançou ‘royals’, o single tomou de assalto as tabelas de vendas anglo-saxónicas. na nova zelândia o sucesso foi naturalmente imediato, mas é nos estados unidos que mais tem surpreendido. há quase cinco meses nos primeiros lugares da tabela billboard hot 100 (com mais de um milhão de cópias vendidas), tornou-se a primeira artista do seu país a conseguir um número um em solo norte-americano, destronando miley cyrus, katy perry, taylor swift e, até, lady gaga.

a nível sonoro, em vez do som saturado que domina a pop para massas actual, optou por uma música com batidas electrónicas suaves, arranjos pouco ostensivos e uma instrumentação reduzida ao essencial. a isso, alia uma voz melancólica e sonhadora. mas é, sobretudo, a sua aposta em ser a antítese da celebridade excessiva e hipersexual que mais se tem destacado. em vez de fazer sobressair um estilo de vida sofisticado e sumptuoso, próprio das estrelas actuais, lorde prefere fazer um elogio da normalidade. nessa medida, as suas letras retratam a realidade suburbana da sua existência e as dificuldades e dilemas comuns para a sua idade.

o desejo de se distanciar do estereotipo popstar juvenil é tão grande que a neozelandesa já veio o público criticar nomes como taylor swift e selena gomez, acusando-as de serem uma má representação da mulher no mundo. sobre selena gomez disse, inclusive, que “nas suas canções, parece dizer que as mulheres devem submeter-se aos desejos dos homens”. “essa visão da mulher deixa-me louca!”.

esta sobriedade valeu-lhe, na semana passada, o título atribuído pela revista time de adolescente mais influente do ano. a eleição surpreendeu muita gente, que criticou a revista norte-americana por ter colocado uma artista pop à frente da activista paquistanesa malala yousafzau. não faltaram teorias sobre as razões da time, sendo o argumento mais defendido o de a cantora transmitir mensagens lúcidas a milhares de adolescentes influenciáveis. mas também já há quem diga que esta atitude anti-estrelato é ensaiada. autêntica ou não, a estratégia está a resultar.

alexandra.ho@sol.pt