Maratona a Alta Velocidade

O Campeonato do Mundo de 2024 tem início na próxima semana, no Bahrain. Durante dez meses, os melhores pilotos do mundo vão disputar 24 Grandes Prémios e, pela primeira vez, há três corridas principais ao sábado. Nunca se viu nada assim na Fórmula 1

O Mundial começa com as mesmas equipas (há duas mudanças de nome, mas a estrutura é a mesma) e pilotos do ano passado, é a primeira vez que isso acontece desde que foi criada a Fórmula 1 em 1950. A 75.ª temporada vai ser a mais longa de sempre. Começa e acaba no Médio Oriente, passa pela Europa, América do Norte e do Sul, Ásia e Austrália, com dois países a organizar mais de um evento: EUA (três) e Itália (dois). Em pista, vão estar três campeões: Lewis Hamilton (sete títulos), Max Verstappen (três títulos) e Fernando Alonso (dois títulos), que só pensam em voltar a ganhar. 

A forma como as equipas trabalharam nos últimos três meses com base num regulamento técnico não teve alterações promete uma época competitiva. Muito dificilmente a Red Bull voltará a dominar como aconteceu o ano passado, onde só perdeu uma corrida. Apresentados os carros de 2024, podemos dizer que há soluções interessantes a nível da aerodinâmica e desenho da suspensão traseira de modo a conseguir a necessária eficácia em pista, é aí que se ganha e perde milésimas de segundo que, no final da época, valem títulos. Definir o conceito de um novo monolugar é uma coisa, assegurar que tem potencial para ganhar corridas é outra bem diferente. Os testes de pré-época, a decorrer esta semana, vão dar uma ideia do potencial de cada equipa/carro. Um dado curioso, nunca tivemos tantos carros com superfícies pretas, o que retira brilho e cor à Fórmula 1, isso deve-se à preocupação com o peso. A pintura de um monolugar pesa cerca de seis quilos e a maneira de baixar o peso é cortar na tinta e deixar os carros com o visual de carbono e um aspeto sombrio. 

A equipa campeã do mundo surpreendeu com o novo RB 20, que apresenta novos conceitos, alguns abandonados pelos rivais, e uma aerodinâmica extremamente apurada. Alguém parece estar em contramão, o cronómetros vai dizer quem tem razão. «A época vai ser emocionante e extremamente competitiva, mas esta é uma equipa que está no auge das suas capacidades e tem pilotos que podem dar cartas em todos os circuitos e em quaisquer condições», afirmou Christian Horner, diretor da Red Bull. 

Depois de dois projetos falhados, Mercedes e Ferrari fizeram alterações significativas no conceito dos seus carros e construíram chassis novos, que permitem fazer as necessárias alterações na geometria das suspensões e fazer trabalhar melhor os pneus, foi aqui que residiu a grande vantagem da Red Bull. A Mercedes venceu apenas uma corrida com George Russell e prepara o contra-ataque com o W15, que recupera as cores dos “flechas de prata”. Vai ser o último ano de Lewis Hamilton na Mercedes, onde chegou em 2013 e conquistou seis títulos mundiais. Toto Wolff, responsável da equipa, adiantou que «não foi apenas uma mudança aerodinâmica, houve muitas alterações mecânicas para tornar o carro mais rápido e fácil de conduzir». «Neste desporto não há milagres, sabemos que temos uma montanha a escalar para estar na frente, mas a nossa ambição e determinação são fortes».

A Ferrari começa o ano com uma atitude mais agressiva e com a responsabilidade de aproximar o Cavallino Rampante da Red Bull. «Temos de ser mais clínicos e eficazes na forma como gerimos as corridas, fazendo escolhas mais ousadas», afirmou o responsável da Scuderia, Frederic Vasseur. Charles Leclerc fez os primeiros quilómetros com o novo SF-24. «As impressões foram positivas, o carro é fácil de conduzir. O ano passado não estava nada contente, o carro era muito difícil de conduzir no limite», lembrou.

A McLaren foi a equipa que mais evoluiu o ano passado. A equipa trabalha num conceito semelhante ao da Red Bull de 2023 pelo que é expectável que ameace a hegemonia dos campeões do mundo e que o novo MC38 possa andar à frente da Mercedes e Ferrari. Zak Brown, diretor desportivo, mostrou-se satisfeito com o novo monolugar: «Queremos comprovar em pista o trabalho e dedicação da equipa, mas temos de ser realistas já que as outras equipas também fizeram progressos». Já Lando Norris disse que «o carro tem boa pinta». E acrescentou: «Tenho total confiança na equipa e acredito que conseguiremos ser melhores do que o ano passado».

Novidades

A equipa satélite da Red Bull designada AlphaTauri mudou de nome e passou a chamar-se Visa Cash App. Nunca houve um nome tão feio no paddock.

O nome Alfa Romeo saiu da Fórmula 1 e, em seu lugar, surge a Stake F1 Team, que tem por base a Sauber. Em 2026 a equipa cede o lugar à Audi. 

Pela primeira vez há três Grandes Prémios disputados ao sábado. A corrida na Arábia Saudita foi antecipada por causa do inicio do Ramadão (10 de março), e para manter uma semana de intervalo entre duas provas o Bahrain também foi antecipado. No caso de Las Vegas, foram os interesses comerciais a motivar a antecipação, a Media Liberty quer aproveitar a febre de sábado à noite na cidade que nunca dorme.

Mantêm-se as seis corridas Sprint (China, Miami, Áustria, Austin, Brasil e Qatar), com uma configuração mais linear. Na sexta-feira realizam-se os treinos livres e a classificação para a corrida de sábado.

O número de componentes da unidade de potência (motores de combustão interna, turbos e unidades MGU-H e MGU-K) foi reduzido de quatro para três, apesar de haver mais corridas esta temporada.

O uso de DRS é permitido a partir da segunda volta para aumentar as possibilidades de ultrapassagem na corrida Sprint.

A Fórmula 1 está comprometida em atingir zero de emissões em 2030. Esta época as equipas têm de utilizar combustível sintético E10 (mínimo de 10%) juntamente com o combustível fóssil.

A FIA endureceu as penas a aplicar aos pilotos e equipas que não cumpram o regulamento. O valor máximo passou de 250 mil dólares para um milhão de dólares.

Circuitos

O campeonato deste ano corre-se em 24 circuitos já conhecidos. Desde o início do Mundial em 1950 foram realizados 1.101 Grandes Prémios em 34 países, incluindo Portugal. A Inglaterra, Itália, Bélgica e Mónaco são os únicos países que fazem parte do calendário desde a primeira edição. 

Motores 

Existem quatro construtores na Fórmula 1 em 2024. A Mercedes-Benz vai fornecer a equipa oficial, a McLaren, a Aston Martin e a Williams. A Honda cede motores à Red Bull e à Visa Cash App, a Ferrari equipa os carros de Maranello, a Haas e a Stake e a Renault vai equipar a Alpine.

Custos

É difícil saber ao certo o preço dos atuais Fórmula 1. Como não houve alterações no regulamento técnico podemos avançar que cada monolugar está avaliado em 15 milhões de euros, sendo que o motor V6 1.6 turbo híbrido é o componente mais caro e complexo – cada unidade custa 10 milhões de euros.