Medo, cansaço e insegurança no regresso do Cairo

Medo, cansaço e insegurança foram três das principais razões apontadas por vários dos portugueses que saíram na terça-feira, do Cairo, no Egipto, e chegaram hoje ao aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa.

à chegada ao aeroporto, depois de oito horas de viagem, as caras dos 47 passageiros que desembarcaram do avião militar c-130 mostravam cansaço, mas também alívio perante os familiares e jornalistas que se reuniram à sua volta.

«a situação [no egipto] não está bem», sublinhou à lusa zeinade domingos, uma residente no cairo, contando que a sua casa teve de ser defendida por vizinhos «que ficaram acordados a noite toda, com paus nas mãos e fogo aceso».

também rafael freitas, outro dos portugueses que regressaram hoje a lisboa, descreveu o medo que sentiu no sábado, quando o gerente do hotel onde se encontrava hospedado o «mandou subir de forma mais brusca» porque estavam a haver pilhagens nos hotéis.

apesar de garantir que «o cairo não está tão perigoso como se pode pensar», rafael freitas adiantou que «a situação não está a acalmar» porque as pessoas continuam «a pedir a saída» do presidente hosni mubarak.

de manhã, acrescentou, «é possível andar na rua sem problemas» e à noite «ninguém sai de casa», mas «poucas pessoas continuam a trabalhar», até porque «os bancos estão fechados e não há internet, nem houve telefones e é quase impossível trabalhar».

e embora os roubos e a violência continuem a acontecer um pouco por todo o lado, rafael freitas não se mostra preocupado. os egípcios «fazem grupos de pessoas e fecham as ruas, ficam a tomar conta das ruas, portanto as pessoas sentem-se minimamente seguras», contou.

entre os 46 portugueses e um espanhol que viajaram no avião de regresso a portugal, encontrava-se uma bebé de nove meses, razão para a família ter embarcado no avião militar que saiu na terça-feira à noite, do egipto.

«na zona onde estávamos, [a situação] estava tranquila, eu só vim por causa de segurança, por causa da miúda», explicou a mãe, raquel cartaxana, enquanto cumprimentava os familiares.

segundo esta portuguesa, o principal problema que se sente nas ruas do cairo é o receio de roubos. «as pessoas estão com algum receio de que possam querer assaltar as casas» e «estão a defendê-las com paus, com armas e com o que podem».

cerca de 300 mortos e mais de 3.000 feridos é o último balanço dos protestos que se têm registado no egipto desde a semana passada, contra o presidente hosni mubarak, além de várias pilhagens quer a casas particulares quer a organismos, museus e instituições com património do estado.

face à situação, o governo português decidiu enviar um avião militar ao cairo para recolher os portugueses que quisessem regressar a portugal, tendo recolhido na terça-feira 46 das cerca de 100 pessoas que mostraram vontade de sair do egipto.

segundo adiantou à lusa o director do gabinete de emergência consular do ministério dos negócios estrangeiros, alexandre duarte jesus, um segundo avião hércules c-130 da força aérea portuguesa encontra-se já na ilha grega de creta, de onde seguirá hoje para o cairo para recolher mais portugueses no egipto.

além disso, pelo menos 30 outros portugueses saíram já do egipto através de voos comerciais.

lusa / sol