‘Meninos do Rio’ encantam turistas na Ribeira do Porto

Os ‘Meninos do Rio’, como são conhecidas as crianças e os jovens que todos os dias se atiram ao Douro na Ribeira do Porto e recentemente inspiraram uma curta-metragem espanhola com o mesmo nome que foi premiada internacionalmente, continuam a encantar os turistas.

A tradição de banharem-se no Rio Douro e receberem umas moeditas em troca, já vem dos antepassados, pelo menos dos pais e dos avós. A lembrarem os meninos pobres de “Aniki Bobó”, de Manoel de Oliveira, não deixam indiferentes o cada vez maior número de turistas que diariamente demandam as zonas ribeirinhas, no Porto e em Vila Nova de Gaia.

17 metros a pique 

A regra é os putos da Ribeira pedirem um euro aos grupos de turistas, para se lançarem, de cabeça, do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I para o Rio Douro. O que impressiona a generalidade dos estrangeiros é a altura – são cerca de 17 metros a pique – com que os jovens portuenses se atiram à água. Antes costumam benzer-se, porque sabem o risco que correm. Ainda há uma semana,um dos jovens, que ousou fazer um “salto mortal”, fracturou uma costela. “Mas para nós dar estes saltos é coisa banal”, afirmam os jovens.

Pedro Lopes, de 16 anos, e Vítor Ferreira (“Passarinho”), de 17 anos, ambos nascidos e criados na zona típica das Fontainhas, contaram ao SOL como é o seu quotidiano no rio.

Alguns começam a lançar-se ao Rio Douro aos oito anos. E também há raparigas, como a “Belinha Palavrinhas”, de 17 anos, praticante de boxe e filha de Anabela Palavrinhas, a conhecida adepta do Futebol Clube do Porto e vendedeira de roupa na própria Ribeira.

"Isto é muito fixe”, diz Belinha, que começou a atirar-se ao Rio Douro com apenas sete anos. A sua mãe, Anabela, de 44 anos, já salvou pessoas que caíram ao rio, como um homem que tentou suicidar-se, atirando-se do tabuleiro superior da Ponte D. Luís I.

“Ao princípio viemos para aqui porque gostamos de nadar e está muito calor, sabe bem, mas quando os turistas nos dão umas moedinhas então é melhor ainda”, diz Pedro, ao mesmo tempo que “Passarinho”, confidencia: “Já dá para irmos ao MacDonalds depois de sairmos daqui ao fim da tarde”. O dinheiro é dividido irmãmente. De repente, Pedro surge com uma nota de cinco euros, ainda molhada, que logo mostra, contente, a “Passarinho”, colocando-a a secar nas pedras graníticas dos alicerces da Ponte D. Luís I.

“Meninos do Rio” premiada

A curta-metragem “Meninos do Rio” foi recentemente premiada num festival espanhol, “El Corto del Año”, entre mais de 600 filmes a concurso, produzidos por cineastas de Espanha e da América Latina. O jovem realizador, Javier Macipe Costa, tal como lhes prometera, exibiu o filme, da produtora Teatro del Temple, à noite, na Praça da Ribeira.

O filme retrata a vivência da comunidade ribeirinha, numa zona declarada Património Histórico da Humanidade, tendo como figuras centrais putos que tratam o Douro por tu.

Muitos são filhos de pais que nunca foram meninos, como retrata Soeiro Pereira Gomes no seu mais conhecido livro, “Esteiros”.