MH17

A queda  do avião da companhia aérea da Malásia, atingido por um míssil, provocou a morte de 298 pessoas. Entre os passageiros estavam 100 cientistas que se dirigiam para a conferência internacional sobre a sida, em Melbourne, como era o caso do professor de medicina e especialista da doença, Joep Lange, de 59 anos.

Este pormenor num certo sentido agrava o horror do acontecimento, mas sobretudo lembra-nos que qualquer acto de guerra, cobarde como este foi, ou não, é um acto contra a humanidade. O desejo de fazer parte de um território ou de querer a independência vale a morte de um inocente? Nem sequer vale a vida de um ucraniano que quer ser russo. A história da guerra começa com a história da humanidade. Terá começado com a luta por uma fêmea, por comida ou por um abrigo? Não é importante. O que interessa é que passados mais de 20 ou 30 mil anos do início da nossa existência ainda se julga que a guerra é uma solução. E não aprendemos.

Natalidade subsidiada

O relatório encomendado para o PSD e coordenado por Joaquim Azevedo oferece sugestões de medidas natalistas para Portugal. Não estou de acordo com a intervenção do Estado numa questão que depende da capacidade e da vontade dos indivíduos. Chamem-me romântica, mas pensar no IRS na hora de decidir ter filhos é demasiado freak. Além do mais, penalizar as pessoas que não têm filhos é uma medida injusta porque quem não tem filhos já paga por serviços dos quais nunca usufruirá. Como incentivo à natalidade deixa a desejar, uma vez que se não têm e mais pagam dificilmente terão mesmo que seja para pagar menos. Ter filhos é uma decisão adiada em muitos casos por causa da falta de emprego em Portugal. As melhorias na economia costumam vir acompanhadas de um crescimento na natalidade. Por haver mais emprego, claro, mas sobretudo por passar a haver esperança no país e no futuro. Sem esta esperança tão necessária não há medida natalista que nos valha.

Trabalho e conhaque

Sabemos que a boa disposição no trabalho é um triunfo para quem trabalha, para quem manda trabalhar e para quem usufrui do trabalho feito. No entanto, predominam os ambientes de trabalho taciturnos e formais com pessoas mal-humoradas, stressadas ou rancorosas com a vida. O meu conselho é: fujam delas. Ou contem as últimas conclusões dos psicólogos. Leon Neyfakh conta no Boston Globe que galhofa e galhofeiros estão a dar no primeiro mundo. As pessoas brincalhonas e mesmo as brincadeiras no horário de trabalho só fazem bem. Os estudos cada vez mais numerosos nos Estados Unidos e na Suíça concluem que, tal como as crianças brincam e aprendem, os adultos devem brincar e trabalhar. Está provado que desta maneira lidam melhor com o stress habitual. Já se sabe isto há muito tempo. No início do século passado liam romances de aventuras aos enroladores de tabaco em Cuba. E até a INATEL se chamava Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT).

Dar à costa

Nem todos os acontecimentos que nos pareciam impossíveis até acontecerem são horríveis como o desaparecimento de um avião comercial ou o abate de outro por um míssil. É o caso do estranho aparecimento de milhões de peças de Lego nas praias da Cornualha. Em 1997, o navio Tokio Express foi atingido por uma onda de proporções gigantescas e 62 dos contentores que carregava caíram para o mar. Num desses contentores seguiam 4,8 milhões de peças de Lego em direcção a Nova Iorque. Nada mais se soube dos restantes contentores mas quase 20 anos após o sucedido, ainda há pecinhas de Lego a aparecer naquela zona e é possível que, por fenómenos de vagas e marés que me escapam, continuem a aparecer por muitas mais décadas. Há uma página de Facebook para quem as coleccione: Lego Lost At Sea. O fenómeno traz dois ensinamentos. Primeiro, confirma-se que o plástico não é reciclável de maneira nenhuma e segundo, nada parece ficar para sempre debaixo do mar.

Mistérios estivais

Por motivos meteorológicos, este ano não tem acontecido tantas vezes chegar à praia mais ou menos vazia, estender a toalha e daí a dez ou quinze minutos ter uma série de vizinhos barulhentos à volta. Como sabemos, as temperaturas têm estado ou bastante  tímidas ou muito altas, o que faz com que ninguém vá às praias vazias porque está frio ou que todos se dirijam para lá porque está um calor de morrer. Mas voltemos ao problema estival. Uma praia quase vazia. Estendemos a toalha. Não há ninguém à nossa volta, só um chapelinho de sol azul à distância de uns 50 metros ou mais. Respiramos o ar puro. Passados uns minutos temos três famílias à nossa volta com toda a gente aos berros mais os cães. Como é que isto aconteceu? Olhamos para o chapelinho de sol azul à distância e o que vemos? O mesmo cerco infernal. Na praia são raros os que aproveitam o vazio para estender a toalhinha. Por que será? Precisaremos assim tanto da companhia uns dos outros?