Milícias estão fora de controlo na Líbia

Juntaram-se para combater o ditador e, depois deste desaparecer às suas mãos, deviam ser uma espécie de exército impulsionador do restabelecimento das instituições e da lei na Líbia. No entanto, um relatório da Amnistia Internacional (AI) avança que, os mesmos que lutaram por justiça, ignoram agora os direitos humanos mais elementares.

o relatório ‘militias threaten hopes for new libya’ revela que «as milícias armadas a operar na líbia estão a cometer violações dos direitos humanos com impunidade, alimentando a insegurança e dificultando a reconstrução das instituições públicas».

todas as milícias deviam responder perante o conselho de transição nacional – a entidade formada durante a guerra e que coordenou a oposição -, mas, neste momento, cada milícia obedece apenas ao seu comandante local. no país existem, pelo menos, 125 mil líbios armados e divididos por 100 a 300 milícias que asseguram a segurança do país e das próprias instalações do estado.

são estes grupos de homens fragmentados, cada um com o seu líder, os responsáveis pelas mortes, detenções e episódios de tortura que a ai agora relata.

desde setembro, pelo menos 12 pessoas foram torturadas até à morte, num país onde apesar da queda do ditador, a violência e a impunidade perpetuam a instabilidade e a insegurança.

técnicos da ai estiveram na líbia e visitaram centros de detenção geridos pelas milícias, onde verificaram que, em dez dos 11 centros visitados, os detidos foram torturados e contam histórias de horror. vários confessaram crimes que não cometeram – violações, homicídios e outros – apenas para não serem mais torturados.

donatella rovera, investigadora sénior de resposta à crise da amnistia internacional resume a situação: «há um ano os líbios arriscaram as suas vidas para exigir justiça. hoje, as suas expectativas estão a ser comprometidas por milícias armadas ilegais que passam por cima dos direitos humanos sem serem punidas. a única maneira de acabar com as práticas enraizadas de décadas de abusos sob o comando autoritário do coronel kadhafi é assegurando que ninguém está acima da lei e que as investigações aos abusos serão feitas».

sol