Muros anti-imigrantes condenariam à morte milhares de pessoas

A Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) teme que, se outros Estados seguirem o exemplo da Hungria, que está a construir um muro anti-imigrantes, milhares de pessoas possam ser condenadas à morte.

Muros anti-imigrantes condenariam à morte milhares de pessoas

"A construção de muros são tentativas de autoproteção, isolamento e desvio do problema de um Estado para outro e, se todos tiverem esta atitude, em última instância estamos a condenar milhares de pessoas à morte", afirmou hoje à agência Lusa a diretora da OCPM, departamento da Conferência Episcopal Portuguesa que trabalha com migrantes.

A propósito da peregrinação dos migrantes ao Santuário de Fátima, no distrito de Santarém, que começa hoje, a diretora da OCPM, Eugénia Quaresma, disse ver com tristeza o "início da construção de um muro antipessoas, anti-sobrevivência", salientanto tratar-se de "uma consequência da dificuldade de estabelecer consensos, diálogo, cooperação e solidariedade entre Estados".

"A construção de um muro desta natureza é fruto de uma medida desesperada, aparentemente unilateral, que acabará por ter um efeito desumano", acrescentou a responsável.

Eugénia Quaresma recordou que "muitos países europeus já passaram por conflitos armados, já tiveram a sua quota de refugiados, já tiveram e têm a sua quota de emigrantes", destacando que "a Europa não se construiu sozinha, nem isolada de outros continentes".

"É necessário ousar a memória para fortalecer a cidadania, recordando o congresso de 2005 promovido pela OCPM, de uma Europa plural, livre e que queremos mais justa no combate às desigualdades", adiantou.

O exército húngaro começou, a 13 de julho, a erguer um muro de quatro metros de altura, que deverá prolongar-se pelos 175 quilómetros da fronteira entre o país e a Sérvia, para conter o fluxo de refugiados.

O projeto, patrocinado pelo primeiro-ministro populista Viktor Orban e destinado a impedir o fluxo de imigrantes provenientes da região dos Balcãs que tentam alcançar a Europa ocidental, foi aprovado por uma larga maioria parlamentar a 06 de junho.

Desde o início de 2015, mais de 100.000 imigrantes entraram na Hungria, um número sem precedentes no país, segundo as autoridades.

A peregrinação dos migrantes a Fátima, presidida pelo bispo das Forças Armadas e de Segurança, Manuel Linda, é o momento mais aguardado da 43.ª Semana Nacional de Migrações, este ano subordinada ao tema "Igreja sem fronteiras, somos um só corpo".

A semana, que começou no domingo e termina uma semana mais tarde, no próximo dia 16 de agosto, é uma iniciativa da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana e da OCPM.

Lusa/SOL